Manuela defende reforma tributária que desonere consumo e produção

A pré-candidata do PCdoB à Presidência, Manuela D’Ávila, participou de sabatina na Abimaq (Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e Equipamentos), em São Paulo, nesta sexta-feira (13). Ela recebeu da entidade um documento com as propostas do setor com um conjunto de medidas que consideram importantes para o desenvolvimento da indústria no país.

Por Dayane Santos

Manuela na Abimaq - Thallita Oshiro

Ao receber o documento, Manuela enfatizou que há muito pontos em comum com as propostas de desenvolvimento que ela tem apresentado como pré-candidata ao Planalto. “Temos divergências factuais, mas os posicionamentos da entidade foram muito próximos aos nossos como no caso das alterações drásticas que foram feitas de anti-desenvolvimento no último período. Precisamos no próximo ciclo do Brasil olhar para as convergências”, frisou Manuela.

Ela salientou que é preciso compreender que o desenvolvimento não virá sem a valorização do trabalho. “E a valorização do trabalho se da a partir da relação estabelecida entre o setor produtivo e os trabalhadores e trabalhadoras. Isso é o que nos faz valorizar a indústria”, destacou.

A pré-candidata do PCdoB voltou a criticar o “rentismo” e disse que seu projeto prioriza investimentos e apoio para “quem produz”. “Que país no mundo se desenvolve e distribui riquezas sem ter uma indústria forte? Que país no mundo se desenvolve e valoriza a sua indústria com taxas de juros gigantesca e um câmbio que valoriza as indústrias de outros países e não as nossas? Existe como pensar em enfrentar as altíssimas taxas de juros sem pensar no papel dos bancos públicos com taxas competitivas? Na nossa interpretação, não”, apontou.

O presidente da Abimaq, José Velloso Dias Cardoso, disse que concorda com Manuela e afirmou que “o desmonte que está sendo feito no BNDES vai prejudicar a indústria e vai demorar muito tempo para recuperar o BNDES que o Brasil tanto precisa e que tanto ajudou no desenvolvimento do país”.

Ele também endossou o argumento de que a indústria precisa ser forte para garantir o desenvolvimento. “Não existe um país que tenha uma indústria desenvolvida sem uma indústria de bens e capital forte porque é ela que erradia tecnologia, não somente na indústria como na agricultura, serviços e comércio”, lembrou.

Ele destacou que o Brasil chegou a ser o 6º maior produtor do mundo de bens de capital, mas atualmente está entre o 12º e 14º lugar. Apontando o devastador processo de desindustrialização, o Velloso disse que a indústria brasileira, que já foi 20% do PIB, hoje representa 11%. No entanto, a indústria carrega uma carga tributária de 28%. “Na indústria de bens de capital, 47% do que é produzido é de impostos, ou seja, somos um país desigual na hora de cobrar impostos e também na hora de distribuir”, declarou.

O representante da Abimaq disse que a entidade defende uma reforma tributária que seja mais justa, transparente e que desonere o investimento e as importações. Ele citou os dados para questionar Manuela sobre as suas propostas para a questão tributária.

Para Manuela, uma reforma tributária deve desonerar o consumo e a produção. “Existirá como executar o projeto de reforma da Segurança que eu tenho, por exemplo, sem o governo arrecadar mais? Como o governo arrecada mais sem pensar em aumento de tributação, e mesmo que pense, como no nosso caso, numa reforma tributária que desonere consumo e a produção e tribute renda, como fazem os países que conseguem se desenvolver?”, indagou.

“A tributação brasileira é desigual. Tributamos consumo e produção e não tributamos renda. E o foco deve ser o inverso. Hoje, o país não tributa as grandes fortunas e heranças. Não tributamos lucros e dividendos, mas tributamos quem está gerando emprego e quem ganha menos e os mais pobres que são tributados pelo consumo”, destacou.

Manuela reforçou que o desenvolvimento da indústria deve ser acompanhando de investimento nas universidades públicas. “Alguns dizem que a universidade pública custa caro. Mas o lugar que produz a ciência básica brasileira que ao fim terminará na indústria de máquinas é nessas universidades”, argumentou.

A pré-candidata disse ainda que a indústria tem papel fundamental na geração e distribuição de renda. “Como a gente pode ter um projeto de país que não perceba que a indústria é fundamental para a geração de empregos, pois é a que melhor remunera. E como sou comunista, eu quero distribuir riqueza. Mas eu quero gerá-la porque se a gente não gera não tem o que distribuir”, frisou.

Manuela voltou a dizer que defende a revogação da reforma trabalhista e reafirmou que uma reforma da Previdência deve ser feita somente após uma auditoria, apontando os devedores da seguridade social.

“Eu defendo que a gente debata Previdência e jornada junto. Acredito que o país está maduro para reduzir a jornada de trabalho para 40 horas. É como dizer que um trabalhador que recebe um salário mínimo vai trabalhar mais dois anos ao fim da sua vida, trabalhando menos ao fim do seu dia durante trinta anos? Para mim não é. São pactos gerenciais que o Brasil precisa fazer”, disse.

Manuela defendeu debater as questões macroeconômicas “sob a lógica dos interesses nacionais”.