Mundial de 2018 amplia hegemonia europeia – Por Thiago Cassis

As semifinais da Copa do Mundo contam com 4 seleções europeias, fato que não é inédito, mas com isso, a distância entre as seleções da Europa e da América do Sul fica ainda mais nítida. 

Por Thiago Cassis*

dele ali - Divulgação

Com a definição das seleções que disputarão as semifinais da Copa do Mundo (França, Bélgica, Inglaterra e Croácia) está garantida mais uma taça para o continente europeu. Dessa forma a hegemonia, que já era a maior de todos os tempos em mundiais, se ampliará ainda mais. 

 
No século XXI, os europeus conquistaram 3 das 4 Copas disputadas, e, dentro de alguns dias, erguerão a quarta taça. Apenas duas seleções não europeias estiveram em finais de Copa, o Brasil, que foi campeão em 2002, e a Argentina, vice em 2014. 
 
Mas o que explica tamanha vantagem por parte dos europeus?
 
Muitos são os fatores, e quase todos os caminhos desembocam na globalização e na força do dinheiro, que faz com que todos os grandes jogadores do mundo passem a melhor parte de suas carreiras na Europa. 
 
Da grande fluência de talentos para o continente europeu, que já acontece de forma massiva a mais de 20 anos, algumas consequências são perceptíveis. Primeiro que jovens jogadores locais (espanhóis, italianos e, principalmente, ingleses) tem muita dificuldade de conquistar espaço nos clubes de seus países, já que essas equipes são formadas por atletas do mundo todo, o que torna a concorrência realmente muito difícil. 
 
Desse fato exposto acima, decorre que quando esses atletas locais acessam a liga principal, entram em contato com formas de jogar diferentes, o que enriquece o futebol local, não à toa estamos assistindo uma Inglaterra que não joga no famoso “chuveirinho”, que era a famosa bola na área pra alguém cabecear pro gol e depois a seleção toda segurando como dava o resultado. 
 
Por outro lado, países que são apenas exportadores de talentos, como o Brasil, enviam cada vez mais seus talentos quando ainda são muito jovens para a Europa. Por exemplo, que história Firmino ou Coutinho conseguiram construir no futebol nacional? Quase nenhuma. São atletas que já consolidam sua forma de atuar nos moldes europeus. 
 
E o que acontece com todos esses jogadores, mais da metade dos que estão na Copa, jogando em sua maioria em ligas que praticam futebol de forma similar? O futebol se padroniza. Quem ganha com isso? A resposta é óbvia, quem tem de quarta e domingo os melhores do mundo atuando em seus campos. E quem perde? Quem fica com o que sobra. 
 
A semifinal da Copa é surpresa? Seleções inesperadas chegando muito longe? Nada disso. As que apresentaram o jogo mais objetivo dentro do que é proposto atualmente estão decidindo a taça. 
 
Para completar, no caso brasileiro, ainda matamos os estaduais, que serviam como espaço para revelar novos jogadores, e o mais importante, reforçar laços da comunidade com equipes de sua cidade ou estado. Temos um campeonato nacional disputado por equipes de capitais do Sul e Sudeste, com "convidados" de outras regiões que tentam apenas não cair de volta pra Série B. 
 
País do futebol? Bem essa é uma expressão ufanista ou ingênua. Ou voltamos para estaduais mais fortes, campeonato nacional mais amplo e democrático, representando toda diversidade do próprio país, ou assistiremos nossas crianças escolhendo os times europeus que elas torcem. E não nos surpreendamos com os ingleses cantando com justiça nas arquibancadas russas: “football’s coming home!”. 
 
Não adianta tirar a camisa amarela da gaveta para usar por um mês a cada quatro anos e achar que nossos atletas atuais encarnarão, como que por um milagre, um Garrincha ou um Romário. Futebol é uma construção cotidiana e parece que muita gente não se importa ou se esqueceu.