Conto: o rei da literatura

inventaram livros e mais livros desde que o mundo existe e o conto, que não serve pra livro – pelo menos não sozinho – ficou renegado aos jornais ou às coletâneas. 

Por Luiz Henrique Dias*

Caio Fernando Abreu - Divulgação

mesmo os contistas profissionais, dedicados ao ofício e ameaçados de extinção pela indústria do romance, são obrigados a juntar os trapos pra conseguir fazer um livro: pegam conto daqui, fragmento dali, coisa inacabada ou abandonada, inventam desculpas como “deixei sem final para o leitor decidir como termina” e conseguem minimamente publicar algo.

mas os romances engoliram as livrarias, ganharam movimentos fantásticos e personagens que seguem vivas em continuações, sagas e episódios mil. viramos a sociedade dos leitores de romances. uma legião de fascinados por livros intermináveis, novelescos, best sellers!

no Brasil então, pior ainda.

tenho perguntado às pessoas o que leem, seguido de um “você conhece o contista tal?” (geralmente caio fernando abreu) e dizem não. ou dizem “já ouvi falar”. caio falava de amor, rapidamente. em contos precisos de poucas páginas. desnudava a alma de seus personagens em poucas linhas para já ir ao que interessa. em “para uma avenca partindo”, por exemplo, escreve sob a tensão de um ônibus prestes a partir, com uma pessoa falando da plataforma e outra pela janela, exigindo do leitor e do autor uma resolução rápida da narrativa, quase em tempo real. o ônibus se vai e tudo acaba em reticências.

outros, como o contemporâneo leonardo brasiliense, gostam de mini contos, ainda mais suscintos e precisos. fica a recomendação de pesquisa.

o fato é que nos tempos da internet a vida exige correria e os contos merecem ter novamente espaço e nós, os contistas, temos o dever de voltar à cena, protagonizar a literatura. não porque somos melhores – mesmo sendo – – mas porquê e a vida é um urgente. e não devemos deixar a literatura nos prender demais.