Mulheres são as principais vítimas de ameaças no Rio de Janeiro

Dados divulgados nesta terça-feira (03) revelaram que a cada três pessoas que procuram delegacias do Rio para denunciar ameaças, duas são do sexo feminino e em 20% dos casos envolvendo mulheres, os acusados são ex-companheiros. Para a presidenta da União Brasileira de Mulheres (UBM), Vanja Santos, muitas dessas ameaças podem acabar em feminicídio se não houver a garantia de proteção para essas mulheres.

Por Verônica Lugarini

violência contra mulher - Agência Brasil

De acordo com um levantamento realizado pelo jornal O Globo com dados do Instituto de Segurança Pública, entre janeiro de 2014 e dezembro de 2017, a cada três pessoas que procuraram delegacias do Rio para denunciar ameaças, duas eram do sexo feminino. No total, as mulheres registraram cerca de 182 mil registros de 278 mil registrados.

Na opinião de Vanja Santos, presidenta da União Brasileira de Mulheres (UBM), infelizmente esse dado não é novidade e essas ameaças vão sendo empurradas até chegar ao feminicídio.

Para ela, isso acontece porque apesar do aumento no número de registros feitos por mulheres, as denúncias ficam paradas, pois as delegacias ainda não têm a estrutura necessária para dar continuidade ao processo de proteção às mulheres.

“Essas denúncias vão ficando na gaveta, para quando tiver tempo, para quando tiver tornozeleira… É isso que estamos enfrentando hoje. E o resultado é a mulher pode ficar paraplégica como aconteceu com Maria da Penha ou pode ser assassinada igual a Deusiane no Amazonas.. todas essas e tantas outras mulheres denunciaram que estavam sendo ameaçadas e perseguidas, mas como as delegacias não têm estrutura, não é possível viabilizar a proteção. Assim, o aguardar dessas mulheres muitas vezes culminam no feminicídio”, disse Vanja em entrevista ao Portal Vermelho.

No Brasil, os casos de assassinatos de mulheres em função do gênero também têm aumentado. Entre 2016 e 2017, os processos de feminicídio à espera de julgamento dobraram, eles foram de 5 mil para 10 mil casos, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ainda de acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídio do mundo.

Outro dado alarmante é que em 20% dos casos envolvendo mulheres, os acusados são ex-companheiros. Em seguida, aparecem as ameaças de desconhecidos e logo depois seus companheiros atuais, vizinhos, cônjuges, ex-namorados e ex-cônjuges, respectivamente. Dessa forma, muitas das ameaças acabam acontecendo principalmente quando um homem descobre que a antiga companheira está em outro relacionamento.

“Desde de quando foi implementada a Lei Maria da Penha (2006) o índice de denúncias por mulheres nas delegacias vem crescendo. Entretanto, a Lei Maria da Penha – apesar dos seus mais 10 anos de existência – ainda está engatinhando. E agora, as políticas voltadas para as mulheres devem sofrer com esse governo que só diminui a verba para atendimento à mulher vítima de violência”, destacou Vanja.

Perspectiva

Vanja afirmou ainda que esse cenário de aumento da violência contra à mulher e a falta de dispositivos deve se agravar por conta dos cortes que estão sendo feitos pelo atual governo de Michel Temer e sua equipe econômica.

“Temer retirou R$ 35 milhões da verba de atendimento e combate à violência contra a mulher para 2018. Esse governo faz justamente o contrário do que foi feito nos governos passados, quando houve a criação da Lei Maria da Penha, quando houve o incentivo e criação de outros instrumentos para atendimento das mulheres vítimas de violência. Ou seja, o governo Temer faz exatamente o oposto: ele tira dinheiro do serviço de prevenção a vítima de violência doméstica. Hoje, nós enfrentamos essa crise e, infelizmente, as mulheres são as mais penalizadas”, explicou.

“O que estamos vendo nesses dados são os resultados desses dois últimos anos, mas futuramente [esse cenário de violência contra a mulher] deve ser ainda mais dramático”, finalizou a presidenta da UBM.