Sobre Neymar: o problema está em confundir o autor com a obra

Neymar joga muito, nasceu com um dom. E jogou muito na vitória do Brasil contra o México. Neymar é craque, gênio da bola, no entanto, os comentários sobre a sua conduta não cessam.

Ricardo Flaitt*

Neymar - Foto: Lucas Figueiredo/CBF/Fotos Públicas

Sob a luz do mundo, para Neymar não basta jogar bem. O povo, a crônica esportiva e todo o mundo espera mais que um craque dentro das quatro linhas, porém, a história nos mostra que a vida nem sempre faz essa tabelinha. O grande erro no exagero das análises concentra-se em confundir o autor com sua obra.

Grande gênios na História, seja no futebol, na literatura, no cinema, nas artes, na ciência não tiveram biografias digamos aceitáveis pelos padrões sociais de suas épocas e nem foram exemplos a ninguém. (Aliás, será que eles queriam ser?)

Grande jogadores como Garrincha, um gênio dentro de campo, não conseguia fintar os problemas com o álcool. Elza Soares que o diga, mesmo em seu amor tentou até “transformar” Mané em doutor, mas não deu, porque a genialidade do Anjo de Pernas Tortas existia para os gramados. Na vida, ainda que mestre na ponta direita, foi “guache” na vida.

O grande poeta Arthur Rimbaud, capaz de escrever os mais sublimes versos ao 21 anos fora traficantes de armas na Etiópia, dentre outras profissões e andanças pelo mundo. De tudo o que fora e fizera, em nada reduz o valor de sua obra.

Maradona é gênio dentro de campo, capaz de conduzir uma seleção a um título mundial, fazendo gols inacreditáveis como o segundo contra a Inglaterra, em que atravessou toda a ilha para termina no porto do gol de bretanha. Fora, um rebelde incontrolável, com problemas com cocaína e outras inúmeras polêmicas. Nada que apagasse sua genialidade no tabuleiro dos gramados.

Picasso, um dos gênios das artes plásticas, casara-se inúmeras vezes em realcionamentos que quebraram paradigmas sociais, mas, nem por isso, suas obras deixaram de ser marcantes e estudadas até os dias atuais.

Longe de Neymar ser o monstro que muitas vezes traçam, mas são inúmeros os exemplos de grandes autores, grandes gênios, que não necessariamente seguiram as normas e que nos deixaram grandes obras.

Neymar, para o universo do futebol, gostem ou não, é um fora de série. Isso também não significa que ele pode tudo. Existem regras, dentro e fora de campo, nos gramados e na sociedade, mas os julgamentos muitas vezes recaem sobre a suas vida, suas atitudes e o seu comportamento, os quais nem sempre não podem servir de base para diminuir o que esse jovem já fez e ainda faz com a bola nos pés.

Não é passar a mão sobre a cabeça do craque, mas também se trata de não extrapolar nas análises, confundindo autor e obra. Neymar, dentro de campo, é craque. Fora, não sei.

É preciso compreender que a vida não é uma equação matemática, em que o bom rapaz consequentemente tornar-se-á um gênio, nem que o mal rapaz será um fracassado.

Fosse assim, teríamos uma fórmula para viver. Mas viver também compreende o ilógico, esse deus que influencia na vida dos homens e nos jogos de futebol.

Fico imaginando Neymar, numa varanda com vista para a Torre Eiffel, sussurrando para si o “Poema em linha reta”, de Fernando Pessoa…