Ocasio-Cortez, a defesa dos trabalhadores e dos migrantes nos EUA

Na madrugada da passagem do dia 26 para o 27 de junho, foi anunciado o resultado da eleição prévia do Partido Democrata para a candidatura no décimo quarto distrito de Nova York, e a (para alguns) surpreendente vitória de Alexandria Ocasio-Cortez, de 28 anos, sobre o experiente deputado Joseph Crowley, liderança das alas mais à direita e pró-corporações dos Democratas.

Por Guilherme Arruda*

Alexandria Ocasio-Cortez - Foto: Jennifer Mason

A jovem trabalhadora de ascendência latinoamericana é também militante da organização Socialistas Democráticos da América, conhecida pela sigla em inglês DAS. Sua escolha para a participação nas eleições gerais do fim desse ano por um grande partido que a permite ter maiores chances de sucesso pode ser o prenúncio de uma virada à esquerda na política dos Estados Unidos da América.

Por muito tempo foi vigente o consenso de que a defesa dos trabalhadores e de políticas voltadas para o povo não tinha chance alguma no país que é o coração do liberalismo. Desde que o socialista Bernie Sanders fez sucesso em 2016, defendendo um sistema de saúde público e gratuito, maiores investimentos na educação e aumento no salário mínimo nacional, essa situação está mudando a olhos vistos. Não coincidentemente, Ocasio-Cortez, então garçonete na megalópole que habita, apoiou Sanders em sua tentativa de ser candidato a presidente. Além disso, a política de imigração xenofóbica de Donald Trump, entre outras medidas amplamente reprovadas e contrárias aos direitos humanos, empurrou muitos jovens a se engajar na construção de uma alternativa política que eles chamam de “grassroots”, ou seja, pela base.

A Immigration and Customs Enforcement (I.C.E.), polícia imigratória ianque protagonista do recente caso de crianças imigrantes separadas de seus pais e presas em jaulas de ferro, está no centro das atenções de Alexandria Ocasio-Cortez. Nos panfletos de sua campanha, a candidata defende abertamente o fim dessa polícia, além da desmilitarização de todas as polícias no país, que é marcado pelos índices altíssimos de violência policial, especialmente contra jovens negros e pobres.

O líder democrata, é claro, não ficou impassível diante dessa inquietação em suas bases eleitorais. O adversário de Alexandria, cotado até para ser futuro presidente da câmara baixa do Congresso americano, discursou chamando a I.C.E. de “fascista” , em tentativa de não parecer fraco frente à sua jovem desafiadora. Por ser um político tradicional com fortes laços com o poder, ele não pôde ser tão propositivo e radical quanto ela, que se saiu melhor dando o passo seguinte e pedindo a extinção do órgão. Enquanto ele gastou 3 milhões de dólares (majoritariamente de origem empresarial) na tentativa de ganhar a eleição prévia, Ocasio-Cortez fez uma poderosa campanha de arrecadação individual com os moradores do distrito, que com exatamente um décimo dos gastos , a levou à marca de 58% dos votos.

Além do Democratic Socialists of America, sua organização, Alexandria teve o apoio de movimentos progressistas como o Black Lives Matter e o Partido das Famílias Trabalhadoras, e também de dezenas de voluntários do distrito onde mora, de composição majoritariamente trabalhadora e de latinos e negros. A resistência montada pelo establishment democrata de nada serviu.

Além da vitória eleitoral que dá esperança na possibilidade de acesso de jovens, minorias e setores oprimidos à grande política, tentando pautar os rumos do país, há outra vitória relevante embutida nas prévias novaiorquinas da última terça: o dicionário americano Merriam-Webster, o mais lido na internet dos Estados Unidos, afirmou via Twitter que logo depois da vitória da candidata, a palavra “socialismo” foi a mais procurada em sua busca online . 

Panfleto da campanha de Ocasio-Cortez destaca direitos dos trabalhadores

Notas:

1. https://ntknetwork.com/dem-leader-calls-ice-fascist/
2. https://www.opensecrets.org/races/summary?cycle=2018&id=NY14
3. https://twitter.com/MerriamWebster/status/1012004052706709506