Lado B da LU: por uma Copa mais latina

Me apropriando um pouco de “Monólogo ao pé do ouvido”.

Por Lu Castro* 

dios 10 - Divulgação

É uma questão de localização e identificação com o espaço onde se nasce, cresce e vive.

No momento, minha localização é Latitude 23º 26’ 02” S e Longitude 45º 04’ 16” W. 
 
Não, não carece jogar no Google Earth. Aqui é Ubatuba, município praiano do estado de São Paulo. Terra que escolhi recentemente para viver e tenho sido bem recebida não só por quem reside como também pela natureza.
 
Ainda que esteja vivendo numa cidade praiana, dona de beleza natural ímpar, o comportamento futebolístico do brasileiro segue sendo o mesmo: grande parte nutre um sentimento de rejeição pelos irmãos latino americanos e, de modo mais agudo, pelo futebol argentino, quando não pelo seu povo, tomando como base, quase sempre, o comportamento de poucos indivíduos. 
 
Me incomoda esta perspectiva torta e generalizada que alguns compatriotas tendem a adotar e meu compromisso ultimamente tem sido de tentar desconstruir isso.
 
Enquanto geral torcia por um fracasso argentino diante da Nigéria no último jogo da fase de grupos, minha tarefa era a de mandar as melhores vibrações para que o esquadrão comandado por Sampaoli – que foi de mediano pra fraco, convenhamos – se vestisse da raça a que estamos habituados, para angariar uma vaga nas oitavas.
 
Enquanto o mundo esportivo fazia suas análises sobre Messi na seleção e Messi no Barcelona, o hermano, ser espacial total, ergue a cabeça e mostra o motivo pelo qual não deve ser comparado a ninguém. Aliás, comparações são quase sempre falaciosas no que diz respeito aos indivíduos.
Foi lá, marcou um belo gol, comemorou e foi abraçado pelo time enquanto a tevê mostrava Dios Maradona numas de suas catarses.
 
O protagonismo argentino no futebol deveria ser, antes, um elemento de recognição como povo de um continente. Continente este amplamente vilipendiado durante a era dos descobrimentos e que segue, indubitavelmente, à mercê de ianques ou compatriotas traidores, vendidos aos interesses que não são os nossos.
 
Celebrar a América Latina durante a Copa do Mundo e torcer pelas seleções que a compõe, não é apenas a valorização do futebol praticado. Esta celebração passa pelo fortalecimento da cultura latino americana e chama para o conhecimento da nossa história. Mas parte da população parece ter mais apreço por sua ascendência que por sua naturalidade.
 
Sou latino americana, nascida na América do Sul, e se tem um momento nesta linha do tempo da qual faço parte, que me permite de modo mais intenso enaltecer minha raíz e minha cultura, este momento é a Copa do Mundo.
 
Um brinde ao avanço de Uruguai, Argentina, Brasil, Colômbia e México às oitavas-de-final da Copa do Mundo.
 
“Viva Zapata! Viva Sandino! Viva Zumbi! Antonio Conselheiro. Todos os Panteras Negras. Lampião, sua imagem e semelhança!”
 
E enquanto tento fechar estas poucas palavras para o Portal Vermelho, vejo Lukako. Espero que a Colômbia tenha a Inglaterra pela frente, porque não dá pra fazer vistas grossas ao futebol belga nesta Copa.