Dia do Orgulho LGBT expõe que luta e resistência ainda são necessárias

Neste 28 de junho é comemorado o Dia do Orgulho LGBT e aqui no Brasil, diversas conquistas foram alcançadas pela luta dos movimentos sociais do segmento, mas ainda há muito para avançar em um país que mata uma pessoa LGBT a cada 19 horas.

Por Verônica Lugarini

LGBT - ASSOCIAÇÃO PARADA GAY

Dentro da bagagem de conquistas dos movimentos sociais LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) estão avanços significativos como a implementação da Política Nacional de Saúde Integral LGBT que combate a discriminação nas instituições e serviços do SUS, o processo de transexualização, o uso do nome social, a retirada da homossexualidade e transexualidade da lista de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS) e a liberação do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.

Apesar desse progresso, o Brasil ainda tem uma grande dívida com a população LGBT, pois ainda persistem a LGBTFobia e sua impunidade, as dificuldades diárias enfrentadas pela população LGBT na hora de estudar e de ir para o mercado de trabalho, por exemplo, da invisibilidade.
Para Andrey Lemos, presidente da UNALGBT, “essa data simboliza os quase 50 anos de luta organizada das pessoas LGBT, mas ao mesmo tempo que enxergamos alguns avanços, também celebramos essa data com muita tristeza porque a cada 19 horas uma pessoa LGBT é assassinada no Brasil”.

“De fato nós temos avanços significativos no nosso país, mas a população LGBT continua morrendo, continua sem emprego e as pessoas travestis e transexuais continuam sem conseguir estudar e tendo sua identidade de gênero desrespeitada”, disse Andrey em entrevista ao Portal Vermelho.

O presidente da organização explicou que mesmo com a conquista do acesso à educação, a população LGBT enfrenta a dificuldade de permanecer nas instituições de ensino.
“Dentro da universidade também tem ódio contra as pessoas LGBT e um dos problemas principais que enfrentamos é a dificuldade de ter um debate amplo, que envolva diferentes setores da sociedade, para falar da importância de respeitar e valorizar a diversidade”.

Sobre a LBGTFobia, Andrey frisou que o ódio é muitas vezes legitimado pelos setores conservadores da sociedade, pelos políticos, religiosos e até pela televisão e, por conta disso, existe uma impunidade em relação as pessoas que cometem a LGBTFobia no Brasil.

“As pessoas são LGBTfóbicas e fica por isso mesmo, não há uma punição. Por isso, precisávamos de um sistema de enfrentamento nacional que envolvesse as várias políticas, tanto de uma educação plural que promovesse o respeito e a valorização da diversidade, quanto uma política de direitos humanos que enfrentasse essa discriminação. Também é necessária a geração de emprego, renda, inclusão social e um envolvimento maior dos setores da cultura e da comunicação que poderiam dar uma contribuição mais efetiva para desconstruir o preconceito”, falou.

Para além deste cenário, o desmonte de políticas públicas que se instaurou no Brasil desde o impeachment de Dilma Rousseff e a tomada do poder por Michel Temer tem agravado ainda mais a situação.

Em apenas um ano, o número de assassinatos LGBT cresceu 30%. Os homicídios de LGBTs passou de 343 em 2016 para 445 em 2017, segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB). Dado alarmante em um país que é o que mais mata pessoas trans no mundo.

De acordo com Andrey, a UNALGBT avalia que esse crescimento drástico é consequência do "crescimento do conservadorismo, das pregações fascistas nas redes sociais, do aumento do ódio e da intolerância no discurso transmitidos inclusive pela TV, nos parlamentos, essa agressividade que temos visto pelas lideranças fundamentalistas que falam que não pode ter debate de gênero nas escolas [como a Escola Sem Partido].”

“Tudo isso se junta ao desmonte das políticas públicas, a falta de diálogo do governo com os movimentos sociais e a falta de estímulo a mobilização social que se transfigura em um processo de desvalorização desse segmento”.

Para ele, com a ruptura democrática em 2016, “as coisas ficaram ainda mais difíceis para a população LGBT porque ainda é uma população que se encontra em situações de vulnerabilidade, em situações de risco, de violência, de intolerância, de violação dos direitos, e com o desmonte o desmonte das políticas públicas isso se agrava nas minorias e nos grupos que são discriminados”.

Em nota a UNALGBT destacou que “a ruptura democrática e o desmonte do Estado brasileiro vem aprofundando as desigualdades, o desemprego e as violações dos direitos humanos. Portanto, conclamamos todas e todos a lutar pelo restabelecimento do Estado Democrático de Direito, por eleições diretas e por um projeto de país com respeito e valorização da diversidade e igualdade de oportunidades. Isso só será possível com a participação do povo! Queremos mulheres, negras, negros e outros povos tradicionais e também LGBT ocupando o poder”.