Pearl Jam protesta contra a política de imigração de Trump

Considerada uma das bandas mais importantes do cenário musical e político da atualidade, o Pearl Jam criticou abertamente o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em apresentação na última terça-feira (19). O alvo do protesto foi a agressiva política de imigração que trancafiou crianças em gaiolas, separando-as de seus pais, na fronteira com o México. Encontramos outras histórias interessantes sobre o ativismo inquieto do quinteto de Seattle. Leia em alto e bom som. 

Por Iberê Lopes*

Pearl Jam protesta contra a política de imigração de Trump - Reprodução da internet

O vocalista do grupo, Eddie Vedder, destinou a canção “Love Boat Captain”, do disco Riot Act (2002), ao político estadunidense, durante show realizado em Londres (Inglaterra). “Eu gostaria que ele ouvisse [a música], mas ele não ouve música ou lê livros. Será que alguém poderia mandar isso para ele no Twitter ou algo assim? Para as mães e pais e crianças sendo separadas na fronteira. Este não é o país do qual me lembro”, disparou Vedder.

A ação violenta do governo americano destinada aos imigrantes na fronteira mexicana, batizada de “tolerância zero”, está sendo criticada por diversas organizações, artistas, lideranças políticas e entidades de defesa dos direitos humanos.

Em seguida, Eddie Vedder sacudiu o público ao chamar um coro de “vai se foder!”, enquanto o guitarrista, Mike McCready, iniciava os acordes da próxima música. Ele emendou dizendo que a situação degradante, da qual são vítimas os imigrantes, não pode ser tratada pelo mundo como algo normal.

“Eu espero que se lembrem que na próxima vez podem ser eles… Porra, eu ainda estou pensando nisso. Essa é uma música de amor de uma mãe para sua filha”, disse Vedder antes de começar a linda balada “Daughter”, do álbum Vs (1993).

O Pearl Jam nunca escondeu que desaprova a condução belicista e imperial de Donald Trump à frente da maior potência militar do planeta. Em tom de ativismo, o rock “Can’t Deny Me”, lançado em março deste ano, é carregado de referências claras ao presidente.

Em entrevista recente, o baixista Jeff Ament falou sobre a inspiração da canção e seu julgamento do governo. “Isso é um pesadelo? Porque parece um pesadelo. Eu acho que quando ele começou a falar sobre concorrer à presidência, uns seis ou sete anos atrás, eu me lembro de pensar algo tipo, ‘que piada’, e não tenho certeza do que ele fez. Mas, tipo, metade das posições no gabinete não estão preenchidas, então eu não sei quem está dirigindo este carro agora”, declarou Ament.

Mais sobre a “tolerância zero” de Trump

O Escritório de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) destacou nesta sexta-feira (22), que a mudança anunciada pelo governo dos Estados Unidos na questão das crianças migrantes é “sem sentido”, porque admitir que fiquem com seus pais nos centros de detenção, em vez de separá-las deles, não é uma saída para o problema. "Dissemos várias vezes que as crianças nunca devem ser retidas por razões relacionadas com sua situação migratória", disse a porta-voz do organismo da ONU, Ravina Shamdasani.

Trajetória revolucionária do Pearl Jam

A história do Pearl Jam sempre esteve ligada ao cenário político, se misturando positivamente com as causas ambientais, anti-imperialista e contra as guerras promovidas por sucessivos governantes dos EUA. No auge das invasões no Oriente Médio, patrocinadas pelo então presidente George Bush, nasceu o enérgico rock “World Wide Suicide“ (2006).

O som é uma pancada contrária a exploração desmedida dos recursos naturais, como se estivéssemos cotidianamente brincando com a finitude da terra. O clipe de “World Wide Suicide” mostra um homem fazendo malabares com uma esfera azul.

Cansou de ler sobre a trajetória da principal herdeira do movimento grunge? Então, depois de terminar, pare para assistir, em alto e bom som, a mais forte das canções politizadas do Pearl Jam. “Do The Evolution”, do álbum Yield (1998), apresenta em quadrinhos a exploração do homem pelo homem, desde o período das cavernas até desembarcar nos tempos de capitalismo selvagem.

“Eu estou à frente, eu sou o homem. Eu sou o primeiro mamífero a vestir calças. Eu estou em paz com minha luxúria. Eu posso matar porque em Deus eu confio. Isto é evolução, baby”, grita cantando, o vocalista Eddie Vedder.

Vale destacar que já no início da carreira, em 1991, o Pearl Jam trouxe um assunto de extrema urgência para a humanidade. As consequências do bullying na vida dos adolescentes está descrita na letra de "Jeremy". Depois de conhecer a história trágica do suícidio de um rapaz na frente de sua turma de Inglês, na escola secundária de Richardson (Texas), Eddie Vedder escreveu o sucesso do álbum Ten.

A música trata do caso de Jeremy Delle, que tinha 16 anos quando tirou a própria vida para se vingar dos colegas que o torturavam. Ele colocou o revolver na boca diante da classe e puxou o gatilho.

A relação política dos herdeiros do grunge com o Brasil

E mais polêmica, inclusive em terras brasileiras, envolve o quinteto de Seattle. Em duas ocasiões, eles fizeram protestos importantes na defesa do meio ambiente e de combate às desigualdades sociais. Em dezembro de 2015, a banda anunciou a doação de US$ 100 mil dólares às pessoas atingidas pela tragédia em Mariana, na região central de Minas Gerais.

No dia do show da banda no Mineirão, em Belo Horizonte, o vocalista Eddie Vedder falou que os responsáveis pela catástrofe, após o rompimento da Barragem de Fundão, deveriam ser "duramente punidos". Ele chegou a interromper o setlist para discursar contra empresas que exploram o meio ambiente.

Em português, o frontman destacou que acidentes como os de Mariana “tiram vidas e destroem rios” para que poucos possam lucrar. “Esperamos que eles sejam punidos, duramente punidos e cada vez mais punidos. Para que nunca esqueçam o triste desastre causado por eles", disse Vedder, sob os aplausos de 42 mil pessoas.

No começo deste ano, antes de chegar ao Rio de Janeiro, para tocar no estádio do Maracanã, a banda divulgou um pôster criado pelo ativista Ravi Zupa. Na arte havia uma mensagem de protesto político, com três pássaros carregando rifles e a imagem de uma favela ao fundo.

Após a forte repercussão, o Pearl Jam explicou, nas redes sociais, que a peça era uma homenagem ao Rio de Janeiro, “particularmente às pessoas das favelas da cidade que, apesar da desigualdade obscena, encontrou uma maneira de construir cidades nas montanhas”.

Durante o show no Rio, Eddie Vedder, mais uma vez em português disse do amor da banda pelo país. “Vendo vocês, percebemos o quanto sentimos saudade. Sempre pensamos no Brasil e adoramos tocar aqui para vocês”, declarou.

Quando parar para uma audiência desta banda grunge de Seattle, inspirada por Neil Young, The Who e Jimmy Hendrix, lembre-se que está ouvindo a vanguarda musical do pensamento livre e revolucionário.

Confira mais sobre o Pearl Jam no site oficial do grupo.