EUA: áudio mostra crianças imigrantes chorando e chamando pelos pais

Uma gravação em áudio que parece captar as vozes de crianças pequenas falando em espanhol e chamando por seus pais em uma instalação de imigração nos Estados Unidos é o centro das atenções no crescente tumulto causado pelas separações de famílias de imigrantes, que já causou a retirada de 2 mil crianças de seus pais

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"Papai! Papai!", diz uma criança na gravação, chorando. O áudio foi inicialmente divulgado pela organização sem fins lucrativos ProPublica. A advogada de direitos Humanos Jennifer Harbury disse ter recebido a fita com a gravação feita na semana passada, mas não forneceu detalhes do local onde o áudio foi captado.

A secretária de Segurança Interna dos EUA, Kirstjen Nielsen, disse que não ouviu a gravação, mas afirmou que as crianças colocadas sob custódia do governo estão sendo tratadas humanamente. Ela reiterou que o governo americano tem altos padrões para os centros de detenção e as crianças são bem cuidadas, ressaltando que o Congresso precisa preencher lacunas na lei para que as famílias possam permanecer juntas.

O áudio veio à tona no momento em que políticos e defensores públicos se reúnem na fronteira entre Estados Unidos e México para visitar os centros de detenção de imigrantes e aumentar a pressão sobre o governo Trump para encerrar a política de separação das famílias.

Críticas

A Igreja Mórmon disse que está "profundamente perturbada" pela separação de famílias na fronteira e pediu aos líderes do país que encontrem soluções com compaixão. O governador do Estado de Massachusetts, o republicano Charlie Baker, reverteu sua decisão de enviar um helicóptero para ajudar em um destacamento na fronteira mexicana e chamou a política atual do governo de "cruel e desumana".

Na fronteira, 80 pessoas se declararam culpadas na segunda-feira, 18, pelas acusações de imigração ilegal e perguntaram ao juiz do caso questões como "O que vai acontecer com minha filha?" e "o que acontecerá com meu filho?".

Advogados presentes nas audiências afirmaram que o grupo de imigrantes havia levado cerca de 25 meninos e meninas para os EUA. O juiz respondeu que não sabia o que aconteceria com os filhos dos imigrantes. Vários grupos de legisladores visitaram uma instalação próxima a Brownsville, no Texas, que abriga centenas de menores imigrantes.

Instalações

O deputado democrata Ben Ray Lujan, do Novo México, disse que o local era um antigo hospital convertido em alojamento para crianças, com quartos divididos por faixa etária. Havia um pequeno quarto para os mais novos, com duas cadeiras altas, onde dois bebês estavam sentados, usando roupas iguais.

Outro grupo de legisladores visitou, no domingo, 17, um antigo depósito em McAllen, também no Texas, onde centenas de crianças são mantidas em jaulas de metal. Uma das celas no local tinha 20 menores. Mais de 1,1 mil pessoas estavam dentro da instalação, ampla e escura, dividida em alas para crianças desacompanhadas, adultos sozinhos e pais e mães com filhos.

No Vale do Rio Grande, o corredor mais movimentado para os que tentam atravessar a fronteira ilegalmente, funcionários da Patrulha dizem que devem reprimir os imigrantes e separar os adultos das crianças para desencorajar que outras pessoas tentem entrar no país sem permissão.

A líder democrata Nancy Pelosi, em entrevista após visita a uma instalação em San Diego, com outros deputados, disse que a separação de famílias é "uma questão bárbara que pode ser mudada em um instante pelo presidente dos EUA, ao rescindir sua ação". "Isso desafia tanto a consciência de nosso país que deve ser mudado e deve ser mudado imediatamente", disse a deputada. San Diego é conectada ao aeroporto de Tijuana, no México, por uma ponte.

O senador republicano Ted Cruz, do Texas, anunciou na Segunda-feira (18) que estava instaurando uma legislação de emergência para manter as famílias de imigrantes juntas. "Todos os americanos estão horrorizados, com razão, diante das imagens que estamos vendo no noticiário, de crianças chorando sendo afastadas de suas mães e pais", disse Cruz. "Isso deve parar."

O presidente Donald Trump defendeu a política de seu governo enfaticamente na segunda-feira, culpando o Partido Democrata pelas separações. "Os EUA não serão um campo de migrantes e nem um campo de refugiados", declarou. "Não sob minha supervisão", completou.