Lula, um preso político

Sabem por que Lula é preso político e tentam impedir de todas as formas que ele possa ser candidato? Por causa do petróleo e da influência cada vez maior que o Brasil vinha tendo nos grandes fóruns mundiais, na geopolítica. Pelos mesmos motivos Dilma foi derrubada. 

Lula - Foto: Reprodução

 Claudio Machado e Marlúzio Ferreira Dantas*

É simples assim. Tudo o mais no entorno é jogo de cena, cortina de fumaça, para camuflar os verdadeiros interesses envolvidos. Pedaladas fiscais, corrupção, bolivarianismo brasileiro, má gestão financeira e econômica? Um dia a história reservará o panteão da ridicularia para esses falsos motivos e seus personagens mantenedores, se não lhes cobrar cadeia pelo estrago que fizeram ao país com base nessas lorotas.

Lula é um preso político. Não está preso porque é corrupto, porque é culpado do que o acusam. Está preso porque é Lula, porque é o grande obstáculo à perpetuação do golpe, à neocolonização do Brasil e à drenagem de nossas riquezas.

Quem quiser achar que a afirmação é pueril, é teoria da conspiração, saiba que terá que se defrontar com fatos históricos que dão estofo ao que está dito acima. Basta considerar que com o pré-sal, o Brasil passou a ser detentor da terceira reserva mundial de petróleo, atrás apenas da Venezuela e da Arábia Saudita. Em setembro de 2017, quase lambendo os beiços, o presidente da Shell Brasil, André Araújo, chegou a dizer em uma entrevista à revista Época Negócios, que “o pré-sal é onde todo mundo quer estar”. Mais não precisa ser dito, a não ser relembrar que em abril foi eleito para o conselho de administração da Petrobras, um ex-executivo da Shell, que trabalhou na multinacional petrolífera por 27 anos.

Para o imperialismo estadunidense e seus aliados de menor peso, ter acesso livre a essa imensa riqueza, tem importância estratégica e para isso vale qualquer expediente, inclusive o golpe de estado do qual fomos vítima em 2016. Não há limites para transpor as barreiras que os impedem de ter acesso aos bens pátrios que tanto lhes interessam. Aqui um governo legítimo foi derrubado com base em um arremedo de legalidade, usando vários elementos da chamada guerra híbrida, mas em certos casos, vale a força bruta mesmo, como foi o caso da invasão do Iraque, pelos mesmos motivos.

Estas forças internacionais, que após o golpe fazem uma acelerada rapinagem de nossas riquezas e de nossa soberania, encontram em solo pátrio um pequeno, mas influente grupo de aliados brasileiros, uma elite escravocrata e subserviente ao imperialismo, que não ama sua pátria, que pouco ou nada se importa com os interesses nacionais e com a nação, desde que garantam a manutenção de seus infames privilégios.

O Brasil tem uma das elites econômicas mais atrasadas do planeta, aferrada a privilégios arcaicos, não apenas àqueles permitidos pela indecente acumulação de riquezas, mas aos usos e costumes herdados da casa grande, que embora não tenha à disposição escravos para supri-los, busca compensar esse “contra tempo” com o tipo de relação que estabelece com a multitude de brasileiros e brasileiras que lhes servem em suas fábricas, em suas fazendas, em suas casas, trabalhadores e trabalhadoras que embora assalariados, são vistos e tratados como seres inferiores pela sua aparência, pelos seus gostos e pelos seu poder econômico, geralmente parco, denotando, aos olhos dessa elite, cidadãos e cidadãs inapetentes para progredirem na meritocracia e, por isso mesmo, vistos como inferiores, menos capazes.

Boa parcela da camada média da sociedade, que muitos chamam de classe média tradicional, está, de certa forma, para a elite econômica brasileira como o capitão do mato estava para os senhores de escravos, cuidando dos interesses da casa grande como se fossem seus próprios interesses, almejando a eles se assemelhar.  A história recente nos mostra como isso se dá, olhando episódios que culminaram com o suicídio de Getúlio Vargas, o golpe civil/militar de 1964 e o golpe parlamentar/judicial de 2016. Essa camada média, que não passa de 20 milhões de brasileiros e brasileiras, defende com unhas e dentes os interesses de meia dúzia de famílias oligarcas, como se fossem seus próprios interesses, ainda que muitas vezes manifestados de forma camuflada, à guisa do combate à corrupção, como ocorre na maioria dos episódios em que milhares desses capitães e capitãs do mato do século XX e XXI se materializam em multidões, aqui e alhures, a pedir a cabeça de governos e governantes populares e reformistas, vendidos pela mídia corporativa (ela mesma componente da elite dominante) como corruptos e incompetentes.

Mas a camada média, cujo sentido de pertencimento está centralizado em seu modo de vida particular, em seus, shoppings, seus clubes, suas universidades, suas viagens de avião, seus perfumes, suas roupas, seus carros, seus restaurantes, que a faz pensar que é rica, que se constitui no creme de lá creme da pirâmide social, de repente vê seu mundo “invadido” por milhões daqueles e daquelas que antes só serviam para lhes servir e hoje se servem, relativamente, dos mesmo espaços, perfumes, poltronas de aviões, salas de aulas, carros e roupas, que antes eram de seu exclusivo uso. Que ódio! Que pânico! De quem é a culpa? Quem autorizou essa horda invadir meu mundo tão asséptico, tão pasteurizado, tão limpinho e cheiroso, tão secularmente exclusivo?

A culpa é do Lula e do PT! Mas cadê a coragem de enfrentar um líder de tamanha envergadura e governos com tanta força social? Não dá. Mas espere… Estão dizendo que o PT é corrupto, deu no jornal nacional que Lula é corrupto, que Dilma pedalou. Pedalou?! Agora sim! Agora podemos abrir o peito e gritar bem alto: foral PT, fora Dilma, Lula ladrão! E no caldo de cultura dessa construção golpista que vem sendo tentada desde 2005, com o episódio do chamado mensalão, surgem subprodutos típicos de retrocessos civilizacionais de recorte fascista, como o ódio coletivo, a repulsa às diferenças e aos diferentes, a exacerbação do racismo, da homofobia, da misoginia, a escola sem partido, outra vez a tentativa de criminalização do comunismo e todas as aberrações d esse tipo que temos visto ao longo dos últimos anos. Inclusive foi esse caldo que adubou o surgimento de uma alternativa de extrema direita à presidência da república.

Toda narrativa precisa de um responsável, para o bem ou para o mal. No caso, para o mal, o PT foi lapidado cuidadosamente como a consubstanciação do responsável por todo o mal que se abateu sobre o Brasil, como nunca antes em nossa história. A maior crise econômica de todos os tempos e atos de corrupção jamais vistos, segundo essa mesma narrativa, que contaminou a maior parte da população e serviu de mote e combustível para levar dezenas de milhares de pessoas às ruas – quase todas da tal classe média tradicional – a pedir a cabeça de Dilma e construir, durante meses, com forte e decisivo suporte dos meios de comunicação, a imagem de um Lula desonesto, corrupto, apresentado sempre na forma de bonecos vestidos com roupas de presidiário. E essa forma de apresentar Lula nas manifestações não foi uma coisa espontânea, comuns em manifestações de ruas. Foi uma peça de marketing pensada, mais um componente tático de um tipo de guerra cuja última coisa que se faz é disparar tiros. Para prender Lula sem que nada houvesse sido comprovado contra ele, a não ser a delação de empresários e executivos desesperados para se livrarem da prisão, era preciso primeiro que ele fosse condenado pela opinião pública, transformando em quase senso comum a crença de que teria, de fato, se beneficiado de propinas. Era preciso prendê-lo sem provas e sem reação popular volumosa, mantendo a qualquer custo a aparência jurídica dada um uma violência política.

A fórmula do golpe só se completaria com a prisão de Lula, para que a farsa pudesse manter os golpistas no poder para além das eleições de outubro de 2018 e assim legitimar o programa golpista por intermédio das urnas. A aposta era a de que o campo da esquerda e progressista não teria candidato capaz de vencer as eleições com Lula fora do páreo. Afinal, eles não deram o golpe em 2016 para entregar a rapadura dois anos depois.

Enquanto a classe média dá seu show, protegendo seu mundinho e dando “brados retumbantes de patriotismo”, vestida de verde e amarelo, com suas dancinhas, seus bonecos infláveis e até mesmo pedido de intervenção militar, os verdadeiros interesses dos golpistas – tendo no centro a Petrobras e as imensas reservas do pré-sal – vão sendo negociados avidamente por multinacionais imperialistas, empresários nacionais e políticos entreguistas, de olho apenas nas fartas “migalhas” que lhes permitirão volumosa ampliação do patrimônio, à custa das riquezas nacionais e da ultra exploração de nossos trabalhadores e trabalhadoras, inclusive da classe média que lhes serviu de instrumento golpista e agora vira bucha de canhão.

Ainda que muitos e muitas de nós possam ter outro candidato ou candidato, lutar pela liberdade de Lula e pelo direito de ele ser candidato, é luta pelo Brasil, pela democracia e pela soberania nacional.

Claudio Machado é membro do Comitê e da Comissão Política Estadual do PCdoB no Espírito Santo, secretário geral da Associação Cultural José Martí – ACJM/ES e coordenador estadual do núcleo do Barão de Itararé.

Marlúzio Ferreira Dantas e petroleiro, dirigente do Sindipetro/ES, membro do Comitê Estadual do PCdoB no Espírito Santo e Presidente da Associação Cultural José Martí – ACJM/ES