A terceira via moderna: a estupidez de Bolsonaro

A cada pesquisa mais próxima da eleição, sobe a percepção de que Bolsonaro lidera as intenções de voto. Difícil acreditar. Ainda assim, necessária se faz uma reflexão sobre qual é o encanto que o candidato exerce sobre seu eleitorado.

Por José da Silva, no Portal Disparada

Bolsonaro é condenado na Justiça por ofensa à deputada

Figura de discurso fácil e moralista, sem nenhuma preocupação com a verdade em sua fala, ostenta uma postura truculenta e militaresca, sempre associada a uma masculinidade aflorada e supostamente inabalável. Em linhas gerais, Bolsonaro se aproxima bastante do “estereótipo do machão”.

Para se ter a correta perspectiva: (i) diz ser militar, mas afora uma história muito mal contada de uma aposentadoria dada como saída para um processo desonroso, nada fez de relevante usando a farda, (ii) diz ser pela “família tradicional”, mas já se casou por 3 vezes e, recentemente, disse utilizar o seu auxílio moradia para manter um imóvel em Brasília a fim de “comer gente” (parece razoável entender que não é sua esposa), (iii) também alega ser muito honesto, mas passou bastante tempo no partido de Maluf e, mais recentemente, foi protagonista de história bastante estranha envolvendo a JBS, (iv) tem uma postura semelhante à de Collor como “Caçador de Marajás”, mas em todas as chances que teve no Congresso, votou pela manutenção ou mesmo ampliação dos privilégios da casta política, (v) se diz nacionalista, mas foi aos Estados Unidos prestar continência à bandeira americana… Lamentável.

Foi ainda filmado em momento constrangedor, quando foi “prontamente ignorado” pelo juiz Sérgio Moro ao buscar mostrar-se íntimo em público. Outra cena igualmente constrangedora foi a sua aparição na maratona do Rio de Janeiro, quando também foi buscar apoio e “conversar” com o povo, mas acabou ouvindo os mais criativosxingamentos dos corredores. Já inicia o vídeo se desculpando por não estar correndo devido à sua idade avançada (62) esquecendo-se que Frederico Fischer, por exemplo, vivia pelas maratonas com 99 anos de idade: “esporte é farmácia”, dizia o maratonista. Bolsonaro nunca foi militar de verdade. Em outros vídeos aparece tentando fazer flexões de forma sofrível… Mal consegue flexionar o esternocleidomastoideo… Também não parece um bom educador físico… no que diz ser formado.

Nas recentes sabatinas do Correio Braziliense, da Rádio Jovem Pan e da Rede TV demonstrou tamanha incompetência, que foi aconselhado por sua assessoria a não enfrentar novos debates ou sabatinas. Quando é provocado a falar sobre algum assunto que não domina (aparentemente todos) logo se esconde por detrás de discursos prontos. Na economia, é grafeno. Na segurança, porte de arma. Na política, falar mal do PT. Na vida privada, afora a supervalorização de seus bens, diz ter certa vez ter plantado 30 ha de arroz “para nunca mais”. Vive de demagogia, fisiologismo e de fraudes intelectuais. Nasceu como um candidato nanico para defender a aposentadoria dos militares de menor graduação e cresceu na batalha pelos “bons costumes” ao lado de Malafaia, Magno Malta, Maluf e outras figuras igualmente controversas, contra as bancadas identitárias do Congresso Nacional.

Como, ainda assim, Bolsonaro é líder?

O problema na verdade não é Bolsonaro. Retire dele a truculência e o discurso militaresco, coloque cosplays de empregos mais humildes e ele será João Dória. Acrescente algum verniz acadêmico e será Fernando Henrique Cardoso. Retire o verniz acadêmico e o substitua por uma postura festiva e popularesca e será Lula. Retire tudo e terá Alckmin. O Brasil vive um momento de inflexão política que possibilita que cada casta se identifique com seu candidato sem precisar, necessariamente, analisar suas propostas. Vota-se em Aécio ou em Marina pelas ideias abstratas que representam. O “meio ambiente”… a “gestão profissionalizada”… a “aristocracia empreendedora brasileira”, o “povão trabalhador”…

A demagogia é a principal trilha da política atual. Salvo uma ou outra candidatura (Ciro Gomes, por exemplo) nenhum candidato faz muita questão de abordar suas visões sobre o futuro do Brasil. Calam-se, porque sabem que quanto menos falarem, mais se beneficiam do caráter “projetivo” dos eleitores: como não conhecem os candidatos e sabem tão somente suas representações abstratas, acabam fazendo as conexões entre o abstrato e o concreto em um fenômeno a que chamamos de “pareidolia política”.

É assim que o funcionário público militar acha que Bolsonaro se parece com ele, embora o candidato tenha sido um servidor medíocre. Da mesma forma, o empresariado brasileiro (seu núcleo mais ignorante e pouco sofisticado) também conecta o discurso da “honestidade” com a forma como julga liderar seus assuntos profissionais. A rudeza e truculência em abstrato é conectada com a “transparência” dos eleitores e assim por diante. É justamente por isso que Bolsonaro não pode participar em fóruns abertos. Falar demais em público sobre assuntos específicos revela que não existe nada mais do que a retórica. Ser presidente, nas palavras do presidenciável, seria um pesadelo para ele próprio. Quem dirá para o Brasil. A fórmula para o sucesso dele é a ausência.

Esta terceira via, a da estupidez, se fortalece diante do analfabetismo político nacional. O país permanece acreditando que votar com o coração (ou com as pautas em abstrato que mais lhe falam ao peito) pode resolver a questão. Essa fórmula tem sido amplamente utilizada por Bolsonaro para perpetuar a sua família sugando o dinheiro público sem nada entregar ao país. A raiva na urna já nos trouxe (ainda que por via indireta) a Ditadura Militar, o Caçador de Marajás, o Privatista Ilustrado e o Líder do Povo e dos Aristocratas. Esperamos que não nos traga o Estúpido Linguarudo e sua prole de inúteis, porque o Brasil não merece tamanha pequenez.