BC admite que país sofreu forte concentração bancária

Em entrevistas, o presidente do Banco Centra, Ilan Goldfajn, sempre tentou minimizar a relação de causa e efeito da concentração bancária no Brasil e a resistência do oligopólio bancário (privado e público) em baixar os juros dos empréstimos na mesma velocidade da queda do piso de captação (a Selic, manejada pelo próprio BC).

Por Gilberto Menezes Côrtes

Banco Central

 Os dados do Banco de Compensações Internacionais (o BIS, na sigla em inglês, o Banco Central dos Bancos Centrais), com sede em Basiléia, na Suíça, levaram o BC a admitir, no Relatório de Economia Bancária, apresentado ontem, que o país teve forte concentração bancária a partir da crise financeira mundial (2008) quando o BIS, que zela pelo Acordo de Basiléia, passou a exigir maior capital dos bancos, o que agravou a concentração.

Mas os dados do BIS mostram que não só o Brasil lidera a concentração entre os países emergentes (os cinco maiores bancos controlavam 82% dos ativos do sistema em 2016), como era o segundo país em nível de concentração (empatado com a França_ e só perdendo para a pequena Holanda (89%). A França teve aumento de 6,4% na concentração de 2014 para 2016. O Brasil veio em segundo, com 5,13%, a Coreia do Sul teve 5% no período, e a Holanda aumentou 3,4%.

Tomando por base o ano de 2006, quando começa a série do BIS, a concentração no Brasil aumentou 36%. Na França foi de 6,4% frente a 2008 e na Holanda o aumento ficou em 5,9%. Nos EUA, após aumentar na crise de 2008, quando vários bancos quebraram e mudaram de composição acionária, a concentração chegou a aumentar para 45%, em 2012, mas recuou para 43%.

O outro efeito foi a alta rentabilidade dos grandes conglomerados bancários. Mesmo tendo o Brasil passado pela maior recessão da história (que reduziu a demanda de empréstimo das empresas de 2015 a 2017 e aumentou a inadimplência geral, com o aumento do desemprego), a média da rentabilidade dos bancos brasileiros, de 13,8% em 2017, medido pelo Retorno sobre o Patrimônio líquido está em 9º lugar no mundo. A título de comparação, embora esteja inferior aos 19,6% do México e os 18,1% do Peru, o índice brasileiro é três vezes maior que o do sistema bancário europeu: Suíça (3,2%), Portugal (4,7%) e Itália (4,7%), ou ainda dos Estados Unidos (3,4%)e da Índia (4,5%).

Mais uma vez, o estudo do BC referenda a versão da Febraban de que a inadimplência explica a maior parte dos spreads bancários (diferença entre o custo de captação dos bancos e o que eles cobram dos clientes finais). Conforme o relatório, a inadimplência representou 38,27% do spread em 2016, as despesas administrativas (25,55%), os tributos e o Fundo Garantidor de Crédito (22,13%) e os lucros e outros fatores (margem financeira) atingiram 14,04%.

Concorrência

O Banco Central voltou a insistir que “ampliar a concorrência é prioridade e se insere no pilar ‘Crédito mais barato’ da Agenda BC+”. O discurso de que “a maior concorrência significa menor custo do crédito e maiores benefícios para a população” é bonito, mas não responde à lógica. Se os cinco maiores bancos concentraram 85,9% do crédito bancário comercial, fica claro que o poder de concorrência das fintechs, entidades que procuram dar crédito via internet, com apoio remoto dos bancos é mínimo, para baixar os juros. Nunca vi o rabo abanar o cachorro…

O BC está prevendo aumento de 3% no crédito do Sistema Financeiro Nacional em 2018. Os empréstimos a pessoas físicas cresceriam 7,0%, mas a demanda das empresas deve cair 2,0%