Agenda neoliberal em xeque nas eleições de outubro

 Desde 1994, o PSDB tem participado do segundo turno das eleições presidenciais brasileiras. Nesse processo, se tornou o maior representante da agenda liberal no país. Em 2018, porém, o pré-candidato tucano, Geraldo Alckmin, tem mostrado um baixo desempenho das pesquisas de intenção de voto, o que gera tensões e questionamentos no interior de sua legenda.

Por Rafael Tatemoto

Geraldo Alckmin

 Acadêmicos ouvidos pelo Brasil de Fato avaliam que há dificuldade para a agenda neoliberal sair vitoriosa em processos eleitorais. Para Olívia Carolino, mestre em Desenvolvimento Econômico e doutora em Ciência Política, a “primeira ofensiva neoliberal”, ocorrida nos anos 1990 na América Latina, foi combatida nos anos 2000 através da eleição de “governos progressistas" pela região, em um processo que pode ser compreendido como rechaço popular aos efeitos de “desnacionalização, privatização e dolarização da economia”.

Uma pesquisa recente indica este rechaço: segundo o Datafolha, mesmo estando no centro de diversas polêmicas, 55% da população é contra a privatização da Petrobras.

“Esse pacote foi rejeitado pelo movimento popular na América Latina. O neoliberalismo hoje não promete nada. Promete desemprego, que as pessoas não irão se aposentar. Promete privatização da energia, a entrega do petróleo. Essa nova ofensiva neoliberal tem como meta limpar qualquer possibilidade de reação popular que possa responder aos seus efeitos. Por isso esse ataque à democracia e o estreitamento das margens democráticas”, diz.

Fracassos

Carolino defende que a “nova ofensiva”, da qual faz parte o impeachment e a gestão de Michel Temer (MDB), sequer foram capazes de “atrair investimentos internacionais”, tal como prometia o neoliberalismo noventista. O insucesso do atual governo também se mostra nos índices de intenção de voto do presidenciável do MDB, Henrique Meirelles, um dos responsáveis pela área econômica do pós-2016.

Apesar das tensões entre democracia e neoliberalismo, o último ainda é capaz de obter sucesso eleitoral em alguns casos. Na América Latina, foi o caso da Argentina, onde prevaleceu Maurício Macri. Danilo Enrico Martuscelli, professor de Ciência Política na Universidade Federal da Fronteira Sul, aponta que a campanha do candidato de oposição ao kirchnerismo se aproveitou das dificuldades econômicas do então governo e se valeu do discurso anti-corrupção.

Martuscelli explica, entretanto, que há um desgaste cada vez maior do macrismo, que se ampara na retórica da “herança maldita” para se sustentar politicamente. Um dos momentos de maior expressividade da reação popular se deu nas intensas manifestações

“A agenda neoliberal afeta diretamente a vida do cidadão médio [argentino] por conta do aumento das tarifas [aumentando]. Água, luz e transportes. A população reage. Embora se tenha um trabalho dos meios de comunicação em mostrar que a herança kirchnerista –'a herança da corrupção, da gastança'– que gerou inflação e outras coisas. A sobrevida do macrismo se deve a isso. Seu núcleo de apoiadores se embasa nisso. A forma de [Temer] acusar o governo Dilma e Lula é a mesma coisa”, defende.

Em mais uma mostra das dificuldades políticas do neoliberalismo, há poucos dias, o governo Macri, diante de dificuldades financeiras, firmou um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional. Carolino e Martuscelli lembram que em 2001 o mesmo já foi feito pela Argentina, o que resultou em diversas manifestações que levaram diversos presidentes a serem derrubados em curto período de tempo e, em última instância, à eleição dos Kirchner.