Mostra de 4 artistas do Recife questiona: Barbárie ou civilização? 

A dualidade da vida humana é a ideia síntese da exposição “Alados: O que paira sobre as nossas cabeças?”, que será aberta nesta sexta-feira (8),às 19h, na Torre Malakoff, no Bairro do Recife. A mostra reúne 32 obras, oito de cada um dos artistas João Neto, Valdson Silva (Val), Oswaldo Pereira e Zel Passavante, além de duas instalações. A noite de inauguração vai contar com a apresentação do Maracatu Fantástico A Cabra Alada. A mostra fica aberta ao público até o dia 22 de julho. 

Mostra de quatro artistas do Recife questiona: Barbárie ou civilização? - Divulgação

Segundo os organizadores, “as obras utilizam técnicas e formatos diferenciados para retratar o cotidiano, favorecendo a discussão sobre as circunstâncias da dualidade contemporânea: êxodos, intolerâncias, arte abstrata versus arte figurativa, nudez artística, negação dos credos, polarização em vez de mediação pairam sobre nossas cabeças e sobre nosso mundo subjetivo”.

“Vivemos numa encruzilhada histórica entre a barbárie ou civilização, a experiência em prol da liberdade, da fraternidade e da igualdade e isso continua sendo um longo processo de aprendizagem. Os artistas se identificam com a cidade do Recife e com seus ritmos, encontrando nas artes convergência e inspiração para novas experiências visuais, agregando as suas obras as influências desse mosaico de tons, cores, sons e conflitos da cidade”.

Quatro artistas em quadros

Na apresentação da exposição, a poeta e advogada Cida Pedrosa chama atenção para o atual momento da História do Brasil em que se impõem a supressão de direitos, os atentados à liberdade, a repressão ao sexo, a polarização de dogmas e a instigação ao ódio. “Tempos de muita cólera e pouco pão. Tempos de muitas falas e pouca escuta. Tempos onde a intolerância é a palavra de ordem e a ternura se tornou uma velha senhora a se pôr de joelhos nas esquinas das cidades. Época em que os artistas acossados perscrutam possibilidades”, destaca Cida.

“E é neste terreno duro e, ao mesmo tempo, movediço, que João Neto, Oswaldo Pereira, Valdson Silva e Zel Passavante se encontraram para empunhar o pincel em formato de flâmula e falarem de liberdade e do que paira sobre suas cabeças. Eles não são um coletivo, se pensarmos no formato mais tradicional do termo, em que artistas dividem o mesmo espaço e criam de forma individual e também coletiva. Eles formam outro tipo de coletivo: um coletivo de ideias! Não produzem em um mesmo espaço físico, mas produzem em um mesmo espaço-pensar e refletem sobre o que os cerca e o que os consome. Prática, a meu ver, muito frutífera nesses dias de virtualidades e solidões”, pontua a poeta.

Quem são os quatro


Obras de João Neto debatem a fusão do sagrado com o profano

João Neto
– É um multiartista e idealizador e figurinista do Maracatu A Cabra Alada. Sua arte está vinculada à produção teatral, dança e artes visuais. João influenciou o visual dos grupos de cultura popular de Pernambuco, quando propôs o figurino multicolorido do Maracatu Nação Pernambuco. É, acima de tudo, um brincante popular. Em sua produção visual, inovou o figurino e estandartes de grupos de cultura popular. Suas telas debatem a temática religiosa, misto de influências de vários credos numa fusão do sagrado com o profano. João Neto é idealizador e responsável pelo figurino e adereços do Maracatu A Cabra Alada.


Desenho de Oswaldo é marcado pela memória ancestral

Oswaldo Pereira – É formado em Educação Artística pela UFPE e pós-graduado em Economia da Cultura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É natural da Praia do Pina, Zona Sul do Recife, onde desenvolveu sua produção cultural. Pesquisador da história do bairro do Pina, escreveu sobre a cultura e o povo daquela localidade. Participa de grupos culturais no Recife e em Olinda, e sua produção em artes visuais tem sido intercalada com sua missão de professor de Arte. Transitando entre as artes cênicas, música e artes visuais, consolidou sua produção nos últimos anos, quando desenvolveu a pintura em objetos e mobiliários. Seu desenho é marcado pelos símbolos trazidos de uma memória ancestral contida em seu repertório imagético. Realizou exposições didáticas no Museu do Barro executando a Curadoria e montagem entre 2014 e 2017 com obras dos estudantes da rede pública de Caruaru.


Val eterniza elementos de sua memória e do cotidiano da cidade

Valdson Silva (Val)
– Nascido no Recife, é administrador, professor, diretor geral e compositor do Maracatu Fantástico A Cabra Alada. Sua produção artística teve início em Olinda, quando pintava camisas com temas diversos. Mantendo-se fiel às suas raízes, Val (como gosta de ser chamado) teve como influência as alegorias dos carnavais vividos e a cultura popular. Em suas telas, encontramos as cores do Verão do Nordeste brasileiro, numa profusão de cores e movimentos, e sua temática traz elementos de sua memória e do cotidiano da cidade. Em 2015, realizou uma exposição em Caruaru (PE), onde ministrou aulas para estudantes da rede pública. Em 2016, a obra Enchente de sua autoria foi selecionada para a 13ª Bienal Naifs do Brasil, no Sesc Piracicaba (SP) e, em 2017, a mesma exposição foi montada no Sesc Belezinho, na capital paulista. Ainda em 2017, a obra O Encontro, de sua autoria, foi selecionada para a 1ª Bienal Internacional de Arte Naifs Totem Cor-Ação, que aconteceu em Socorro (SP) entre 29 de setembro de 2017 a 4 de novembro de 2017.


Zel dedica-se às telas em acrílico com temáticas sociais e aos fractais

Zel Passavante
– Nascido em área de morro do Recife, mais precisamente no Alto de Santa Isabel, bairro de Casa Amarela. Artista engajado tem sua vida dividida entre duas paixões: a Arte e a Política, paixões que sempre se cruzam e geram bons frutos. Formado em Artes Plásticas pela UFPE, em 1985, tem atelier no bairro da Boa Vista, zona central da capital pernambucana.
Apresenta como recorrente em suas telas, a temática social e tem como um dos momentos mais expressivos de sua trajetória a exposição multimidiática realizada no Recife, em 1991, Homem-gabiru: catalogação de uma espécie – uma revisita ao cientista social Josué de Castro e sua obra Geografia da Fome em conjunto com a produtora Tarciana Portela e o fotógrafo Daniel Aamot.
Expôs suas obras em várias cidades do país, como o Rio de Janeiro, onde participou da ECO-92. Mais recentemente realizou a mostra Cabeças Revoltas, no Centro Cultural dos Correios, no Recife. Suas obras já foram expostas na Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo; no hall do Hotel Nacional em Brasília; e no MAMAM, no Recife. Atualmente dedica-se à produção de telas em acrílico e a Fractal.

Do Recife, Audicéa Rodrigues