Primeira mulher latino-americana a presidir a Assembleia Geral da ONU

América Latina cindida na disputa pela presidência da Assembleia Geral da ONU. Venceu a equatoriana Maria Fernanda Espinosa, apoiada pela Venezuela, e perdeu a hondurenha Mary Elizabeth Flores, apoiada pelo Brasil.

Por Ana Prestes*

María Fernanda Espinosa

Poeta, diplomata e escritora, a ex-ministra da Defesa (2012 – 2014) do governo de Rafael Correa no Equador e a atual chanceler do país, María Fernanda Espinosa, foi eleita no dia de hoje, 05 de junho, para presidir a Assembleia Geral das Nações Unidas. Maria Fernanda teve o apoio das delegações de países como Venezuela, Bolívia e Nicarágua.

A disputa se deu entre ela e a hondurenha, Mary Elizabeth Flores Flake, ex-deputada e embaixadora de Honduras na ONU. Flores teve o apoio das delegações de países como Colômbia, Brasil e Peru.

Maria Fernanda teve 128 votos a seu favor, contra os 62 votos de Mary Elizabeth. Ela agora preside a 73ª sessão da Assembleia Geral da ONU. O mandato dura um ano. Seu trabalho será dirigir os debates que se dão na sede da ONU em Nova Iorque. Em sua primeira mensagem pelo Twitter depois de eleita, Maria Fernanda disse: “dedico esta eleição às mulheres do mundo e me comprometo a trabalhar por uma verdadeira igualdade de gênero”.

A cisão expressa na divisão de opinião entre as distintas delegações latino-americanas para a eleição é um retrato do momento de intensa disputa política na região. A situação está presente na política interna de cada país. No Equador, por exemplo, Maria Fernanda teve a resistência de quase 60 parlamentares que quiseram aprovar sua destituição da chancelaria dias antes da eleição para presidência da AGNU, por considerarem que não cumpriu suas funções, manejou equivocadamente a política externa e não soube lidar com a crise na fronteira da Colômbia*.

No mesmo dia em que Maria Fernanda foi eleita para a AGNU, termina em Washington a Assembleia Geral da OEA onde também há disputa entre as distintas delegações latino-americanas sobre a situação na Venezuela e na Nicarágua. Tudo indica que deixamos mesmo para trás um período de profunda integração regional com o fortalecimento da UNASUL e da CELAC e voltamos para um cenário de fragmentação política alimentada pelos interesses norte-americanos impostos via assédios bilaterais, sanções e instrumentalização da OEA.

*Equador e Colômbia vivem uma tensão fronteiriça na região norte equatoriana e sul colombiana onde há disputa territorial entre facções de ex-guerrilheiros que reativaram atividades por não concordar com o acordo de paz e narcotraficantes. Três jornalistas equatorianos foram assassinados nesta região no começo de 2018.