Na Jordânia, população vai às ruas contra a austeridade

A capital da Jordânia, Amã, se transformou no palco dos maiores protestos dos últimos cinco anos. Motivo: uma reforma fiscal proposta pelo Governo liderado por Hani Mulki, com o apoio do Fundo Monetário Internacional, que faz parte de um pacote legislativo que impõe ao país três anos de austeridade

manifestações na jordânia contra a austeridade - Reuters

No sábado (2), milhares de pessoas saíram de casa para a terceira noite de manifestações contra o governo, as maiores no país nos últimos cinco anos. Exigem a demissão do primeiro-ministro, que não abdica da legislação enviada para aprovação dos deputados.

"Enviar leis para o parlamento não significa que este concorde com elas ou com todos os artigos. O Parlamento toma as suas próprias decisões", sublinhou Malki, em declarações aos jornalistas citadas pela Reuters.

As ruas de acesso a sede do Governo foram bloqueadas pela polícia, que usou gás lacrimogênio em outras cidades mais pequenas onde também se registaram manifestações mais pequenas. Houve confrontos sem gravidade entre autoridades e manifestantes em diversos locais do país.

Os sindicatos afirmam que a reforma fiscal em causa vai piorar as condições de vida no país, depois que no inicio de 2018 ocorreu uma subida geral de impostos e de ter sido cortado o subsídio ao pão. Essas medidas fazem parte de um plano de austeridade de três anos com que o Governo árabe e o FMI pretendem cortar a dívida pública de 37 milhões de dólares, que representa 95% do Produto Interno Bruto da Jordânia, onde vivem oito milhões de pessoas, incluindo centenas de milhares de refugiados de guerra. A taxa de desemprego atingou em 2017 o máximo em 25 anos e rondava os 20%.

A Jordânia faz fronteira com a Síria e o Iraque, tendo a Arábia Saudita como vizinha no sul. Indiferente às exigências de demissão, o rei Abdullah pede apenas um "diálogo nacional" entre governo e parlamento, mostrando que apoia os planos do executivo, que garante necessitar de mais dinheiro para assegurar serviços públicos. O monarca diz que a recessão e o descontrole das contas públicas são culpa da instabilidade na região. Muitos cidadãos e analistas, pelo contrário, responsabilizam o grande gasto político e a corrupção.

A economia jordana tem registado sucessivos défices, prejudicada pelas guerras vizinhas, pela fuga de capitais privados, cortes na ajuda externa e decréscimo do investimento estrangeiro. Na sexta-feira (1), conta a BBC, Abdullah teve de intervir para "congelar" o preço dos combustíveis e evitar mais uma subida penalizadora para a população.

Mulki argumenta que a reforma fiscal protege os mais desfavorecidos e aumenta a contribuição dos mais ricos, garantias que não convencem a população. Sindicatos representativos dos trabalhadores dos setores público e privado entendem, pelo contrário, que o pacote de austeridade "aumenta as disparidades" entre ricos e pobres e prometem responder com greves e outras formas de protesto.

Outras vozes críticas anteveem um chumbo do pacote legislativo que está à espera de aprovação dos deputados. O presidente do parlamento, Atef Tarawneh, disse à Reuters que mais de 80 deputados (entre 130 com assento naquele órgão), querem que o governo retire a proposta de reforma fiscal. "Nós não nos submeteremos à ditadura do FMI", reclamou Tarawneh, depois de se ter reunido com o primeiro-ministro, no sábado (2).