Europa busca outras potênicas: China e Rússia

França e Alemanha tentam se aproximar da China e da Rússia após os Estados Unidos deixarem o acordo multilateral com o Irã; esses encontros também evidenciam uma nova organização diplomática mundial 

Merkel e Xi

Depois dos Estados Unidos, aliados à Israel, sairem do acordo nuclear multilateral com o Irã, a Europa tem buscado alianças para salvar o pacto, considerado pela ONU como essencial para a paz; mas, além disso, pode estar em jogo uma nova remodelação diplomática, especialmente porque os EUA tem se isolado cada vez mais, deixando um vazio que está sendo ocupado pela China e pela Rússia. 

Os EUA também disseram retomar imediatamente as sanções contra o Irã, o que recaíria sobre empresas europeias que fazem negócio com o país persa. A China e a Rússia, que tem concretizado cada vez mais sua influência regional e sua presença na geopolítica mundial, também são signatárias do acordo, e agora a União Europeia se encontra com esses dois países para salvar o pacto nuclear- que evita que o Irã construa uma armas nucleares em troca da suspensão das sanções econômicas contra o país.

Alemanha e China

Angela Merkel, primeira-ministra alemã, esteve na China nessa última semana. Na quinta-feira (24), China e Alemanha concordaram em ampliar a cooperação entre si, especialmente em setores emergentes, como a inteligência artificial e veículos de nova energia. 

Durante a reunião no Grande Palácio do Povo, Li Keqiang, primeiro-ministro chinês, propôs aproveitar bem o papel de diálogos institucionais bilaterais em várias áreas e intensificar o intercâmbio em áreas como finanças, comércio, investimento e segurança. Li deu as boas-vindas às empresas alemãs para investir na China e espera que a Alemanha ofereça um ambiente justo e aberto, além de uma garantia estável de instituição para os investimentos chineses na Alemanha e na Europa; ele defendeu ainda que os dois países combinem estratégias de desenvolvimento e facilitem intercâmbios entre as pessoas, bem como cooperação cultural, educacional e de turismo, segundo informou a agência Xinhua. 

A China, que já é uma grande parceira da América Latina, agora quer intensificar a negociação de um tratado de investimento bilateral com a Europa, prometendo unir-se à União Europeia para defender o multilateralismo e defender o sistema multilateral de comércio. Segundo Li, a China abrirá suas portas para o mundo, ampliando ainda mais o acesso ao mercado, além de acelerar o estabelecimento de um ambiente de mercado que esteja em conformidade com regulamentações e concorrência leal. 

Merkel disse que seu governo valoriza muito as relações com a China, e que a Alemanha está disposta a melhorar a cooperação com a China e a contribuir para fortalecer os laços entre a União Europeia e a China.

Sobre o acordo nuclear com o Irã, ambos os países concordaram em mante-lo. Li afirmou que a decisão norte-americana pode ter consequências para outras tentativas de solucionar conflitos de maneira pacífica.

França e Rússia

O presidente francês, Emmanuel Macron, esteve na Rússia na última semana. Rússia e França também reforçaram a importância dos esforços para evitar o colapso do acordo nuclear com o Irã. 

Na entrevista coletiva, Putin disse que a Rússia aprecia os esforços europeus para salvar o pacto, apesar da retirada dos Estados Unidos, e alertou para as lamentáveis consequências da sua não preservação.

Outro assunto foi a Guerra na Síria. Os líderes francês e russo concordaram em criar um mecanismo de coordenação entre potências mundiais — o que poderia incluir Rússia, Turquia, Irã, França, Reino Unido, Alemanha, Jordânia, Estados Unidos e Arábia Saudita — para avançar os esforços em favor de uma solução política para a Síria, mergulhada na guerra desde 2011. O foco, segundo acordado, deverá ser a elaboração de uma nova Constituição e de um novo processo eleitoral que inclua todos os cidadãos sírios.

Macron vem defendendo um diálogo estratégico entre Rússia (que vem concretizando cada vez mais sua influência no Oriente Médio e sua aliança com a China) e Europa, mesmo após meses de estranhamento contra Moscou- a França apoiou o Reino Unido no caso sem provas do envenenamento do agente Skripal e bombardeou a Síria (aliada da Rússia) junto com os Estados Unidos. Na visita desta quinta-feira (24), reconheceu que Paris e Moscou discordam em vários temas, mas reforçou a sua defesa por um "forte multilateralismo".

Macron tentou se aproximar dos Estados Unidos, já que ambos tem interesses em comum. Mas essa possibilidade esfriou muito após a saída definitiva dos EUA do acordo nuclear, que promoveu ainda mais o isolamento de Trump. 

"A Rússia está pronta para ajudar a Europa, que depende dos EUA em assuntos de segurança, e fazer tudo para não permitir novas ameaças no mundo", declarou o presidente russo. Putin
disse que os passos de seu país divergem muito dos passos dos EUA, inclusive no que diz respeito à Coreia Popular e ao acordo com o Irã, mas que está sempre aberto para o diálogo. 

"A política protecionista e sanções realizadas por alguns países podem ter graves consequências para a economia mundial", avisou Putin durante o Fórum Econômico Mundial, no qual Macron estava presente, em uma clara crítica às últimas ações tomadas por Trump. De acordo com o líder russo, a concorrência honesta garante progresso. Para Putin, o mundo hoje em dia precisa não de guerras comerciais, mas de paz comercial genuína.