Pau D'Arco: Há um ano agentes do Estado executaram 10 sem terras

O assassinato de 10 trabalhadores sem terra na fazenda Santa Lúcia no Sul do Pará completa um ano nesta quinta-feira (24). 17 policiais (civis e militares) foram indiciados mas ainda não foram encontrados os mandantes do crime. O trabalho da perícia desmascarou a versão de confronto dos policiais e apontou para execução sumária. Neste dia, entidades de direitos humanos realizaram um tuitaço exigindo justiça para o caso.

enterro de vítimas do massacre em Pau Darco Pará - reporter

A fazenda Santa Lúcia foi ocupada pelos trabalhadores que lutavam para que a área fosse destinada para a reforma agrária. 

Post da Anistia Internacional nas redes sociais afirmou que o caso de Pau D’Arco foi “um dos casos mais brutais de execução promovida por agentes do Estado”. O resultado do primeiro inquérito realizado pela Polícia Federal provou que os tiros que atingiram os sem terra foram pelas costas e à queima-roupa. Também não havia marca de tiros nas viaturas e a perícia concluiu que as armas dos trabalhadores não foram usadas no dia o ataque.

O processo chegou a fase final após o juiz ouvir cada policial e testemunhas para decidir se os acusados irão a júri popular. A chacina de Pau D’Arco é o segundo maior massacre no campo brasileiro após o massacre de Eldorado dos Carajás ocorrido em 1996 que deixou 19 trabalhadores mortos. Em Pau D'Arco, “Relatos das testemunhas afirma que as pessoas foram rendidas, sofreram tortura, maus-tratos e, em seguida, foram executdas”, diz retrospectiva feita pela Justiça Global.

Uma das vítimas do ataque foi a liderança Jane Julia de Almeida, única mulher assassinada na ocasião. De acordo com sobrevivente do massacre ouvida pela reportagem do Brasil de Fato antes da execução de Jane ela ouviu xingamentos ditos pelos policiais. “Eu saí correndo e ela (Jane) ficou sentada, eu não sei se eles mataram ela sentada, só lembro que eles falavam: levanta para morrer velha safada, velha vagabunda, cachorra. Xingavam de vários nomes e ao mesmo tempo sorriam e atiravam”.

A prisão dos policiais que participaram do massacre não amenizou a tensão na região. Advogados que acompanham o caso pelo lado dos trabalhadores rurais vem sofrendo ameaças. É o caso de Rivelino Zarpellon que acompanhou a delação premiada de dois policiais que estão sob proteção. A Comissão Pastoral da Terra tem denunciado que o advogado foi incluído em uma lista de marcados para morrer. Zarpellon registrou boletim de ocorrência afirmando que estranhos rondam a residência.

Na opinião de Darci Frigo, em entrevista ao Estadão, as ameaças a advogados e ativistas dos direitos humanos apontam que os mandantes da chacina continuam atuando na região. Frigo é vice-presidente do Conselho Nacional dos Direitos Humanos e tem acompanhado o caso desde o início. O cenário de agravamento da violência no Estado levou o CNDH a marcar a 38ª reunião ordinária no Pará. Geralmente o encontro se realiza em Brasília. A reunião ocorrerá de 11 a 13 de junho.