Fim do Fundo Soberano é o abandono de estratégias de desenvolvimento

Para o economista e professor universitário, Numa Mazat , ao extinguir o Fundo, o Brasil se junto à ortodoxia econômica internacional e segue os passos da Argentina e Paraguai, abrindo mão do desenvolvimento econômico soberano.

Michel Temer - Foto: Marcos Corrêa/PR

O Fundo Soberano do Brasil foi extinto, nesta segunda-feira (21), pelo presidente ilegítimo Michel Temer através de Medida Provisória. A medida foi publicada na terça-feira (22) no Diário Oficial da União e os recursos serão utilizados no pagamento da Dívida Pública Federal.

Segundo o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Numa Mazat, a medida se inscreve na série de alterações na política econômica e na forma de enxergar o processo de desenvolvimento.

"O Fundo Soberano muitas vezes é usado para dar orientações estratégicas à economia nacional. Principalmente através do financiamento de setores vistos como estratégicos para o desenvolvimento econômico nos países periféricos", explicou economista.

Os fundos soberanos, citou ele como exemplo, são usados na Rússia, China e outros países asiáticos emergente como uma forma de direcionar recursos para setores que podem prover um maior desenvolvimento das forças produtivas ou de setores atrofiados por conta de atrasos tecnológicos ou por falta de financiamento.

"No caso do Brasil, a extinção do Fundo Soberano significa o abandono de estratégias de desenvolvimento econômico de longo prazo e da política industrial, principalmente pensando na internacionalização produtiva de determinados setores", afirmou o economista.

Segundo o especialista, o principal problema da extinção é o uso dado dos recursos. Na tentativa de suprir o déficit da União, o Fundo será integrado no orçamento.

"Ou seja, um fundo estrutural de longo prazo será usado em uma tarefa de curtíssimo prazo. Isso mostra a fragilização da economia brasileira".

Importância simbólica

Mazat destacou que o Fundo Soberano brasileiro não chegou a ter importância significativa do ponto de vista econômico. O valor inicial de R$ 14 bilhões, que agora soma R$ 26,5 bilhões, ainda é muito baixo, comparando com o chinês, com mais de 2 trilhões de dólares, ou o russo, superior a 100 bilhões trilhões. "O papel do fundo era mais simbólico", afirmou Mazat.

O fundo foi projetado para cumprir um certo papel no processo de desenvolvimento econômico. Além disso, existe seu uso macroeconômico, na forma de resguardo contra eventuais ataques especulativos, como na Argentina atualmente. Esses fundos completam as reservas internacionais, mas no Brasil essa instituição nunca cumpriu esse papel.

"Do ponto de vista simbólico [extinção] significa na prática o abandono de políticas mais assertivas no nível macroeconômico e no nível do desenvolvimento econômico. O Brasil assim tenta se conformar hoje com uma ortodoxia econômica internacional, seguindo os passos da Argentina e outros países da América Latina, como Paraguai ou outros países com evoluções políticas parecidas", explicou o economista.

"O Brasil está simbolicamente abandonando parte de sua soberania do ponto de vista econômico e do ponto de vista do processo de desenvolvimento", concluiu.