Irã: acabou o tempo em que os Estados Unidos decidiam pelo mundo

O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, apresentou uma lista de 12 exigências para o Irã e anunciou que os EUA vão impor “as sanções mais fortes da história” caso as exigências não sejam cumpridas; em resposta, Hassan Rouhani, declara: "o tempo em que os EUA decidiam pelo mundo acabou

EUA e Irã - Latuff

Hassan Rouhani, presidente iraniano, disse na segunda-feira (21) que os Estados Unidos da América não podem tomar decisões pelo Irã e por outros "países independentes", apesar de, em alguns casos, "conseguirem avanços na sua agenda por via das pressões".

"Quem são vocês para tomarem decisões pelo Irã e pelo mundo? Hoje, o mundo não aceita que a América decida por todos […]. Esse tempo acabou", disse o presidente iraniano, citado pela PressTV e a RT.

Afirmando que a atual administração dos EUA retrocedeu à "era de George W. Bush" de 2003, Rouhani rejeitou o verdadeiro ultimato que Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA, fez na segunda (21) ao seu país, exigindo que o Irã faça profundas alterações na sua política interna e externa, sob ameaça de sanções e estrangulamento da economia.

Falando na segunda-feira (21) na Heritage Foundation, em Washington D.C., Pompeo disse que os EUA irão aumentar a pressão financeira sobre o Irã, impondo as "sanções mais fortes de todas", caso Teerã se recuse a aceitar as exigências feitas sobre suas políticas internas e externas.

Pompeo enumerou 12 "exigências básicas" e disse aos iranianos que não duvidassem da "seriedade" da ameaça. Na lista dirigida a Teerã, está não só a exigência de pôr fim definitivo a qualquer programa relacionado com a atividade nuclear, mas também a de alterar a política externa regional, fatores dos quais nem mesmo os próprios EUA abdicaram: o país sempre fez e continua fazendo avanços nucleares e nunca deixou de impor suas vontades a países vizinhos, incluindo na América Latina.

Entre outras coisas, Mike Pompeo disse que o Irã tem de parar com o desenvolvimento de mísseis, "libertar todos os cidadãos norte-americanos", sair da Síria e deixar de apoiar grupos que os EUA consideram "terroristas", nomeadamente o Hezbollah, grupo de resistência contra o governo sionista de Israel, aliado histórico dos Estados Unidos e verdadeiro incomodado com a crescente influência do Irã no Oriente Médio.

EUA fora do acordo nuclear com o Irã

O discurso de Pompeo segue-se ao anúncio, realizado pelo presidente dos EUA a 8 de maio, de que Washington saía do acordo nuclear, oficialmente conhecido como Plano de Acção Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), que foi assinado em 2015 pelo Irã e pelo Grupo 5+1 (os cinco membros com assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas – EUA, Reino Unido, França, Rússia e China – e a Alemanha).

Nos termos do acordo, o Irã pode desenvolver o seu projeto nuclear com fins pacíficos e enriquecer urânio até 3,67%, sendo o excedente enviado para a Rússia.

Em pelo menos dez ocasiões, especialistas da Organização Internacional de Energia Atômica confirmaram que Teerã respeita o que está estipulado no acordo. No entanto, Donald Trump considerou que assinar o JCPOA foi "o pior que os EUA podiam ter feito" e, logo no início de maio, assinou um memorando que repôs "de imediato" as "sanções econômicas nucleares" que haviam sido retiradas após o acordo.

Diplomacia iraniana sublinha erro de Trump

O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, afirmou no Twitter que os EUA estão repetindo "as mesmas decisões erradas" e que irão colher "os mesmos prêmios ruins". 

Também nas redes sociais, o embaixador iraniano no Reino Unido, Hamid Baeidinejad, classificou a política do presidente norte-americano como "delirante", sobretudo no que diz respeito à pretensão de "reduzir a zero o programa nuclear" do Irã.

O reconhecimento do direito do Irã a enriquecer urânio é uma das principais conquistas do JCPOA e a razão pela qual as negociações tiveram êxito, destacou. "O acordo baseia-se no direito do Irã a manter o seu programa pacífico nuclear e não é possível rever o tratado sem esse elemento", disse, citado pela Prensa Latina.