Seleção Soviética: a primeira campeã europeia

Ao contrário do nosso continente Sul-Americano, que tinha um campeonato de seleções desde 1916, o Velho Continente somente viria a ter seu torneio em 1960. E a primeira edição do Campeonato Europeu de Futebol (Eurocopa), cuja fase final foi disputada na França, foi totalmente dominada por equipes de países comunistas. A União Soviética se sagrou a primeira campeã da Europa, batendo a Iugoslávia na final. O terceiro lugar ficou com a Tchecoslováquia.

Por Emanuel Leite Jr*

Era uma vez na União Soviética - Divulgação

Em 1960, a UEFA realizou, na França, a primeira edição da Eurocopa. Na ocasião, quatro seleções se classificaram para a fase final, que já se iniciava na semifinal. A União Soviética, então vivendo seu auge no futebol, estava entre os quatro melhores do continente.

Para chegar à fase final, a União Soviética e outras 16 seleções passaram pelas Eliminatórias, que foi disputada em sistema de mata-mata. No primeiro confronto, os soviéticos eliminaram a Hungria com um placar agregado de 4 a 1, após duas vitórias de 3 a 1 e 1 a 0.

Na etapa seguinte, o adversário seria a Espanha, que vivia sob a ditadura fascista de Francisco Franco. Antagonista dos comunistas, desde os tempos da guerra civil espanhola na década de 1930, o ditador espanhol não permitiu que a seleção de seu país viajasse para a União Soviética. Com isso, a Espanha foi eliminada e os soviéticos avançaram para a fase decisiva.

Na semifinal, o time comandado pelo rigoroso técnico Gavrill Kachalin não teve dificuldades para despachar a Tchecoslováquia: 3 a 0.

Na final, a Iugoslávia. A primeira decisão do campeonato da Europa de seleções seria entre duas equipes de países comunistas. Mas não se tratava de um jogo qualquer. Afinal, a República Socialista Federativa da Iugoslávia era a única nação do Leste Europeu que não estava sob a órbita da União Soviética em sua área de projeção geopolítica. Isso porque o projeto independentista iugoslavo de seguir seus rumos sem ser um satélite soviético culminou com a expulsão do PC iugoslavo do Cominform em 1948 e o rompimento das relações com a União Soviética (CLAUDÍN, 2013, p. 583).

Apesar de Khrushchev ter tentado reatar os laços em 1955, a relação com a Iugoslávia se manteve estremecida. Independente, Tito se colocou contrário à intervenção soviética na Hungria, em 1956, por exemplo.

Portanto era uma partida que trazia rivalidades políticas, animosidades que iam além das quatro linhas do gramado. Este conflito com a Iugoslávia e seus desdobramentos em competições de futebol eu abordo com mais detalhe no livro “A história do futebol na União Soviética” (Multifoco Editora).

No estádio Parque dos Príncipes, em Paris, quase 18 mil pessoas presenciaram uma partida emocionante. A dois minutos do intervalo, Galic abriu o placar para a Iugoslávia. Os soviéticos iam para os vestiários de cabeça quente com a derrota parcial. Porém, com apenas quatro minutos de segundo tempo, Metreveli empatou. Igualdade que permaneceu até o fim do tempo regulamentar.

A decisão foi para a prorrogação. O goleiro Lev Yashin, com sua emblemática camisa negra, passou sempre segurança ao time soviético. Que chegaria à virada já no segundo tempo. Ponedelnik, primeiro jogador de um time de segunda divisão a vestir a camisa da seleção, marcou o gol que selou o triunfo dos cientistas da bola e deu o título europeu à União Soviética, a maior glória do futebol do país.

Ficha técnica: União Soviética 2 x 1 Iugoslávia

União Soviética
Yashin; Chokheli, Krutikov e Maslyonkin; Voynov e Netto; Ivanov, Metreveli, Ponedelnik, Bubukin e Meskhi. Técnico: Gavriil Kachalin.

Iugoslávia
Vidinić; Durković, Jusufi e Žanetić; Miladinović e Perušić; Šekularac, Jerković, Galić, Matuš e Kostić. Técnico: Ljubomir Lovrić.

Data: 10/07/1960
Estádio: Parque dos Príncipes (Paris)
Público: 17.966
Árbitro: Arthur Edward Ellis (ENG)
Gols: Metreveli e Ponedelnik (URSS); Galic (IUG)

*Emanuel Leite Jr. é jornalista, doutorando em Políticas Públicas (Universidade de Aveiro), autor dos livros "Cotas de televisão do Campeonato Brasileiro" e "A história do futebol na União Soviética".