'Criminoso do ano', gritam manifestantes ao receber Moro em Nova Iorque

A foto de João Doria com o juiz Sergio Moro durante entrega do prêmio de "Personalidade do ano", nesta terça-feira (15), concedido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, de Nova Iorque, não é nenhuma surpresa para os brasileiros. A conduta parcial e seletiva de Moro como juiz nos processo da Lava Jato em Curitiba são a maior prova de que no caso dele juiz é apenas um substantivo masculino.

Por Dayane Santos

Manifestantes pró-Lula protestam contra Sergio Moro em Nova York - Reprodução

Não é a primeira vez que Moro faz pose ao lado de um tucano, deixando claras suas afinidades eletivas. A imagem dele aos risos com o tucano Aécio Neves (PSDB-MG), que encabeçou o golpe contra a democracia, durante um evento também demonstrou que para ele tal situação não lhe causa constrangimento, ainda que entre os requisitos de um juiz esteja a imparcialidade e a independência.

No livro "O caso Lula: a luta pela afirmação dos direitos fundamentais no Brasil", o professor Silvio Luís Ferreira da Rocha, juiz federal criminal em São Paulo, destaca que um juiz que é homenageado ou prestigia eventos de natureza empresarial ou políticos organizados ou liderados por manifestos adversários sociais ou políticos dos investigados ou dos réus deixa claro que houve "quebra de imparcialidade".

Essa percepção é demonstrada nas pesquisas. De acordo com levantamento da CNT/MDA divulgada esta semana, 90,3% dos brasileiros consideram que a Justiça não age de forma igual para todos. Apenas 6,1% consideram que age de forma igual.

Moro não deixa dúvida de que gosta dos holofotes, afinal aceitar receber um prêmio de "personalidade do ano" e ir discursar na cerimônia com uma planteia que inclui adversário políticos não é a conduta de um magistrado. Ele chegou a admitir durante o discurso que um juiz não “deve chamar esse tipo de atenção”. Segundo Moro, “Judiciário e juízes devem atuar com modéstia, de maneira cuidadosa e humilde”.

Mas ele resolveu ignorar tais premissas e confraternizar com a plateia de lideranças de empresas internacionais e financeiras, que pagaram a partir de US$ 1.200 para ouvi-lo discursar, com direito a jantar de gala realizado no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.

Após a repercussão das fotos ao lado de Dória, Moro resolveu comentar o assunto classificando como “bobagem” as críticas e disse que não se arrepende de aceitar convites para posar ao lado de políticos.

“Estou num evento social e tiro uma foto, isso não significa nada. É uma bobagem isso”, declarou. “Não me arrependo nem um minuto de aceitar esses convites”, disse o juiz antes de discursar a um grupo de empresários num hotel em frente ao Central Park nesta quarta (16).

Protestos

Do lado de fora, mais de 200 brasileiros e norte-americanos enfrentaram a chuva para receber Moro sob gritos de "golpista" e "Lula Livre". 

Convocado pelo coletivo BRADO-NY, os manifestantes empunharam cartazes denunciando o golpe no Brasil e a perseguição política ao ex-presidente Lula, que é mantido como preso político desde 7 de abril na Polícia Federal em Curitiba. "Criminal of the year (criminoso do ano)" e "Moro pratica lawfare", escreveram os manifestantes.

O prêmio é concedido a um seleto rol de personalidades. Vencedor da edição de 2017, o tucano João Dória, pré-candidato a governador fez a apresentação de Moro. Chamou o juiz de “herói nacional”, pediu “salvas de palmas de todos em pé” e disse que este é o “Brasil dos homens de bem”.

Ao discursar, Moro repetiu a tese rasa da direita sobre corrupção e democracia em que reforça a ideia ditada nas sua sentenças em que criminaliza a política e coloca os empresários como vítimas. Aproveitou para aconselhar os empresários para não cair nas armadilhas dos políticos e que "a Lava Jato é uma prova de vigor da democracia".

Sem falsa modéstia, disse que a sua premiação "legitima a luta contra a corrupção no Brasil" e que "os setores privados, brasileiro e americano, apoiam o movimento anticorrupção no Brasil".

O juiz de primeira instância falou como chefe de estado em alguns momentos. Outros como político. O juiz que usou os seus processos para atuar politicamente desde 2014, chegando a grampear e divulgar o conteúdo gravado da presidenta da República, Dilma Roussef, violando a Constituição, garantiu que não há ameaça de ruptura da democracia no Brasil. “Apesar de dois impeachments presidenciais e um ex-presidente preso, não houve e não há sinais de ruptura democrática", disse.

Como um papagaio e mantendo-se na linha d surfar no discurso do apolítico, o pré-candidato a governador de São Paulo João Doria explorou o que pode do evento, posando para várias fotos com Moro e publicando nas redes sociais.

“Noite especial aqui em NY ao lado de duas pessoas que admiro: ex-prefeito de NY, Michael Bloomberg e o Juiz Sergio Moro, homenageados no ‘Person of the Year Awards’ (Personalidade do Ano), prêmio que também tive a honra de receber no ano passado”, escreveu Dória, que descumpriu a promessa de campanha e largou a prefeitura de São Paulo para disputar o governo.