Gabrielli defende intensificação do debate para construir unidade

Sérgio Gabrielli, economista e ex-presidente da Petrobras durante os governos Lula e Dilma (2005-2012), destacou a importância do manifesto dos partidos do campo progressista em defesa de um projeto nacional de desenvolvimento e defendeu o aprofundamento desse debate para oferecer alternativas de saída para a crise.

José Sérgio Gabrielli ex-preisdente da Petrobras - Agência Brasil

"Nós tivemos um manifesto comum dos partidos, as fundações estão formulando diretrizes gerais. Eu acho que esse processo precisa se intensificar. Precisamos fazer uma discussão de contraponto ao programa que, na prática, está sendo implementado pela direita, ou seja, temos que dar alternativas para o país voltar a crescer, para reduzir a pobreza, para reduzir a desigualdade, para reassumir um papel de soberania nacional, alternativas para a reconstrução do estado brasileiro e ampliação da democracia, e não a redução dela", enfatizou Gabrielli.

De acordo com ele, o país enfrenta "a explicitação de um estágio atual da luta de classes brasileira" e que a fase promovida pelos governo progressistas de melhoria das condições de vida da população mais pobre, bem como a melhora dos de cima também, passou.

"Não temos mais a situação internacional que favoreça isso, não temos mais a capacidade ociosa que possibilite essa retomada sem precisar de mais reformas estruturais. Chegamos a um ponto em que, para continuar melhorando a vida dos de baixo, é preciso tirar um pouco dos de cima. Isso não quer dizer socialismo, ainda. Isso significa apenas que a luta de classes se explicita de uma forma mais clara. E para isso, vai haver conflito, o que vai exigir uma redefinição das forças políticas", explica.

Analisando o quadro eleitoral, Gabrielli afirma, sem citar nomes, que há quatro candidaturas de centro e de esquerda. "Isso é fato e temos que trabalhar com essa realidade. Então é preciso ter a capacidade política de viabilizar uma discussão programática para governar e até para, se caso perder a eleição, ser oposição, e viabilizar as eleições legitimamente com a presença de candidatos tanto a deputados, como governadores e presidente, comprometidos com esse programa", argumentou.

Para ele, a possibilidade de uma candidatura única depende de diversos fatores. "Se vamos ter uma candidatura única ou se vamos ter várias candidaturas no primeiro turno, é o processo que vai dizer. Não tenho uma posição a priori nesse momento. Acho que temos que manter a candidatura de Lula e trabalhar com a discussão programática", declarou.

Questionado se a candidatura de centro seria a dos pré-candidato Ciro Gomes (PDT), Gabrilli afirmou que "Ciro defende um programa desenvolvimentista, um programa em que a recuperação da indústria brasileira é um elemento importante, um programa que vai contra o rentismo selvagem que nós temos no Brasil".

Ele lembrou que a direita está tentando polarizar para atrair a pré-candidatura pedetista "para o lado de lá", e que o debate deve ser a partir das convergências.

"Acho que não podemos empurrá-lo a uma posição mais à direita, ele tem que ser conquistado", disse. "Acho que uma discussão programática com ele, sobre o papel da indústria brasileira, sobre a capacidade do câmbio vir a estimular a indústria brasileira tem que ser feita e é uma área importante de ser trabalhada com o Ciro", acrescentou.

Gabrielli defendeu que o país precisa construir as bases para enfrentar o rentismo. "Os governo Lula e Dilma não conseguiram de fato enfrentar essa questão de forma significativa. Em 2011, a Dilma tentou reduzir um pouco o rendimento do capital rentista, foi rapidamente derrotada, e essa questão para mim é hoje central em termos das finanças públicas. Nós temos uma disputa clara entre o pagamento de juros da dívida via emissão de novos títulos de dívida ou via transferências do Tesouro, mas o fato é que a dívida pública brasileira consome boa parte do orçamento brasileiro. Se nós não enfrentarmos esse problema nós não vamos conseguir enfrentar o desafio de retomar o crescimento com distribuição de renda", declarou

E conclui: "Precisamos continuar a luta para reduzir a desigualdade, para extinguir a pobreza absoluta no país, para expandir os serviços públicos a favor de quem mais necessita, e isso não é possível com tantos recursos sendo carreados para quem vive de renda no país".