Só 15% das denúncias ao Disque Direitos Humanos tiveram resposta

Balanço anual da ouvidoria do Ministério dos Direitos Humanos aponta ainda o aumento da violência principalmente contra populações de rua, que explodiu após 2016.

crianças direitos humanos

cada 10 denúncias feitas em 2017 ao Disque Direitos Humanos ("disque 100"), apenas 1,5 obteve resposta sobre o tratamento dado pelo órgão ou entidade ao qual foram encaminhadas. As entidades socioassistenciais, em especial os Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e os Centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), são as que mais responderam.

Os dados são do Balanço Anual da Ouvidoria do Disque Direitos Humanos relativos a 2017. De acordo com o relatório, "a quantidade de respostas não reflete, necessariamente, a atuação dos órgãos e entidades de promoção e proteção dos direitos humanos, pois em muitos casos, atuam efetivamente. Entretanto, não fornecem feedback".

Ainda segundo o relatório, como estratégia para reversão do quadro, a ouvidoria "tem envidado esforços para estabelecer parcerias institucionais, mediante a celebração de acordos de cooperação técnica com as instituições de promoção e proteção de direitos humanos, com o objetivo de incrementar dados e relatórios sobre as providências adotadas e fornecer feedback aos denunciantes". E que nesse sentido, foram celebrados dois acordos de cooperação técnica com o Ministério Público e com o Colégio Nacional dos Defensores Públicos Gerais (Condege) para a operacionalização dos fluxos de encaminhamento e monitoramento.

Para o advogado Ariel de Castro Alves, coordenador da Comissão da Criança e do Adolescente do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe), os dados demonstram que somente a denúncia não é suficiente. "São necessárias providências efetivas. Muitas vezes os casos ficam só nas ligações. Não existe monitoramento dos encaminhamentos, faltam delegacias especializadas de proteção às crianças e conselheiros tutelares mais comprometidos e capacitamos, varas especializadas", afirma.

Segundo ele, o Ministério dos Direitos Humanos não acompanha os casos que chegam ao serviço. "Apenas recebe as denúncias e repassa. Não mantém a cobrança das providências. E órgãos como os conselhos tutelares, promotorias, defensorias, delegacias e varas da infância não informam ao disque 100 se atenderam às vítimas e verificaram as denúncias. O descaso, a omissão, é enorme. Com isso, o serviço vai perdendo a credibilidade e as pessoas desistem de denunciar."

O relatório mostra que as crianças e adolescentes, mulheres, idosos, deficientes, detentos e populações LGBT e de rua são os grupos que mais sofreram violações. A negligência é a violação mais comum nos casos envolvendo os menores. "Muitas vezes as mães deixam as crianças sozinhas em casa por falta de vagas em creches, e acabam sendo acusadas de negligência, quando o poder público é que foi negligente em não garantir vaga de creche", destaca.

Em praticamente todos os grupos, as denúncias aumentaram muito a partir de 2016. "As violações, em geral, aumentaram em razão da disseminação da intolerância e do ódio. E porque a União e os governos estaduais e municipais estão cortando recursos ou extinguindo programas voltados à proteção de crianças, adolescentes, mulheres e idosos. Pesa ainda o desemprego e a falta de programas, serviços e políticas sociais", avalia Ariel.