Movimentos Sem Teto explicam gestão coletiva de uma ocupação

Integrante da Frente de Luta por Moradia, afirma que contribuições de ocupantes para custear manutenção e reformas e como são usados os recursos são decisões coletivas das famílias

Prédio que desabou no centro de SP - Largo do Paissandu - Rovena Rosa/Agência Brasil

O Movimento Sem Teto do Centro (MSTC) e a Frente de Luta por Moradia (FLM) promoveram uma entrevista coletiva para explicar a jornalistas como funcionam as ocupações na maioria dos movimentos organizados pelo direito à habitação. Nos últimos dias – desde o ainda não esclarecido incêndio que levou ao desabamento do edifício Wilton Paes Leme, no centro de São Paulo – muitos veículos de comunicação têm se empenhado em promover noticiário negativo para as organizações populares, em que são criminalizadas e acusadas de explorar moradores.

A reportagem da TVT foi também à ocupação Nove de Julho, num prédio do INSS que ficou 30 anos abandonada no centro de São Paulo. Ali vivem 121 famílias desde outubro de 2016. Cada família contribui com R$ 200 mensais para custear manutenção e obras de reforma feitas gradualmente, na medida das condições dos ocupantes.

“Eu sou favorável à cobrança porque quando a gente entrou aqui esse prédio estava todo esburacado, não tinha acesso pra mim. A gente colocou rampa na escada, no banheiro, a gente conseguiu tapar todos os buracos, reparar a fiação elétrica, a parte hidráulica, tudo isso”, diz a artesã Adriana dos Santos Menezes, 41 anos e moradora do edifício, que é cadeirante.

Sua vizinha, Daniela dos Santos Neves, concorda. “Eu acho importante, eu contribuo e eu vejo no que a contribuição é utilizada.” Entretanto, lideranças de movimentos de moradia passaram a ser perseguidas como se as contribuições feitas pelos moradores fosse um crime.

A coordenadora do MSTC, Carmen Silva, explicou na de que forma as contribuições são feitas e como são empregados os recursos. E criticou os ataques que os movimentos têm recebido: “Eu queria que essa parte da sociedade que está fazendo esse questionamento nos dessem uma receita de algum local que funciona sem custo”.

O arquiteto belga Jeroen Stevens, que há quatro anos pesquisa e acompanha as ocupações, explica que o perfil dos ocupantes é composte de famílias que não conseguem sair das ruas e precisam se organizar coletivamente para conseguir construir juntas o que não conseguem sozinhas. “Criminalizar isso não entra na minha cabeça”, diz Stevens.

A base da organização dos sem-tetos é o princípio constitucional da função social da propriedade, e que está presente no Plano Diretor Estratégico da cidade de São Paulo.

Confira reportagem da TVT: