Brasileiros e argentinos juntos, contra o racismo no futebol

“O pior cego é aquele que só vê a bola". A frase de Nelson Rodrigues descreve o que vemos não só nas mesas redondas, mas nas mesas de bar. Tudo que é discutido é o que acontece nas quatro linhas. E isso é bem triste, já que sem o extracampo não tem partida.

Por Guadalupe Carniel*

futebol contra racismo

Ontem o São Paulo venceu por 1 a 0 o Rosário Central, em partida válida pela Copa Sul-americana, garantindo a classificação nesta primeira fase do campeonato.  Não que o jogo tenha sido brilhante, até porque o Rosário já vem de péssimos resultados, se empate pode ser considerado positivo foi justamente há um mês contra o mesmo São Paulo na partida de ida.

O detalhe que ganhou a simpatia de quem gosta de futebol se deu justamente fora da cancha. Na primeira partida, torcedores do Rosário imitaram macacos e ofereceram bananas.

A torcida do São Paulo poderia simplesmente fomentar a briga e a xenofobia e se vingar no retorno. Mas ao contrário. Fez um churrasco e recebeu os "canallas", com são conhecidos os torcedores do Rosário. E foi além: as duas torcidas caminharam com uma faixa contra o racismo e a bandeira dos dois países, mostrando que rivalidade pode existir com respeito, e ainda receberam as equipes juntas em frente ao estádio do Morumbi.

Sim, as torcidas são-paulinas são próximas dos funebreros (Chacarita Juniors) desde 2005, não só pelas camisas bem parecidas, mantendo uma amizade que se estende a recepções e coisas assim.

Após o ocorrido, os são-paulinos observaram que a barra estava no lado oposto da torcida brasileira na primeira partida, enquanto que os racistas ficaram próximos aos tricolores, num setor mais caro.

Tanto que em todas as redes sociais, o recado dado por coletivos e torcidas da equipe era clara: somos todos latinos e contra a xenofobia.

Sobre o caso, a Independente emitiu a seguinte nota:

"Recebemos hoje em nossa Sede a Torcida do Rosário Central, e estamos fazendo um churrasco no Morumbi.

A imagem de violência no jogo de ida será apagada hoje.

Na nossa ida recente à Argentina, os nossos 06 ônibus foram recebidos por eles no Clube do Rosário Central, onde tivemos um churrasco de confraternização com nossos irmãos.

Os incidentes de racismo registrados durante o jogo de ida na Argentina não foram provocados pela Torcida Organizada, que estava, inclusive, na arquibancada oposta à dos visitantes onde a Independente estava, e sim pelo povão.

As duas Torcidas estenderam uma faixa no Morumbi, levando uma mensagem para o Mundo: Diga não ao Racismo!"

O que levou as principais torcidas do São Paulo a fazerem o tal ato antes da partida foi algo que falta em boa parcela da sociedade: discernimento. Essa mesma sociedade que julga, generaliza e reduz o futebol e seus seguidores a acéfalos e bandidos. Atos como esses da torcida não são isolados. Mas é bem mais fácil demonizar e fechar os olhos pro que se passa nas ruas e pistas, do que tentar entender e ver além do que só às quatro linhas ou do que as linhas da telinha mostram.