Depreciação do real joga pá de cal na recuperação da economia

Em artigo publicado no jornal Valor Econômico, Gilberto Borça Jr., mestre em economia pela IE-UFRJ, e Letícia Magalhães, mestre em economia pela FGV-EPGE, procuram responder à questão: "por que a economia não engrenou?". No texto, eles destacam que, apesar da lenta recuperação, a retomada esperada para 2018 não aconteceu. Segundo eles, os níveis de incerteza sobre os rumos da economia estão acima da média histórica e a incerteza sobre as eleições possuem um peso significativo no cenário atual.

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"Mesmo com a forte queda da taxa básica de juros, que está em seus níveis mínimos históricos e assim deve permanecer por algum tempo, observa-se que as taxas de juros para prazos mais longos continuam elevadas", destacam.

Um outro ponto citado por eles é que "a continuidade da fragilidade fiscal no médio/longo prazo e a questão eleitoral são, aparentemente, as causas do "prêmio" embutido na curva de juros. Os juros longos são, em teoria, aqueles relevantes para as decisões de consumo e investimento".

Os economistas mencionam ainda "o mercado de crédito, onde tem se verificado uma lenta redução das taxas de juros ao tomador final, devido ao comportamento dos spreads bancários". "Embora o BC tenha publicado em seu último Relatório Trimestral de Inflação que a queda dos juros bancários e a recuperação das concessões de crédito estejam em linha com os últimos ciclos de queda da Selic, a percepção geral é de que tal redução acontece a uma velocidade aquém da adequada", avaliam os economistas.

O artigo também se refere ao "desempenho de um setor muito importante, mas que está bastante atrasado no processo de recuperação, o da Construção", que representa 50% do investimento na economia e que foi fortemente afetado pela Lava Jato, que afetou as grandes construtoras e empreiteiras do setor.

Associado a isso está o processo de desalavancagem das empresas e a disparada da taxa de câmbio, que "sofreu uma depreciação rápida, saindo do patamar de R$/US$ 3,20 para valores superiores a R$/US$ 3,50. O comportamento da taxa de câmbio joga, de forma quase definitiva, uma pá de cal na já incipiente recuperação da economia", afirmam. "Para este ano, devido à elevada incerteza, parece difícil a reversão do cenário, pelo menos até outubro. Talvez seja hora de pensar em 2019", fianalizam.