Ao contrário de PSDB e PMDB, brasileiro quer Estado grande e forte

Os brasileiros acham que o Estado – e não o mercado – deve regular a economia, comandar as empresas mais importantes do país e garantir o bem-estar, a redução das desigualdades, os serviços de saúde e educação e as aposentadorias. É o que mostra pesquisa quantitativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação, parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT). A preferência da população por um Estado grande e forte se choca com o projeto neoliberal em curso no país.

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O levantamento, realizado entre os dias 15 e 23 de março e publicado pelo jornal Valor Econômico nesta terça (08), promoveu 2,5 mil entrevistas em 179 municípios de todo o país, com exceção do Amapá. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Nas entrevistas, os participantes eram instados a estabelecer um valor de 1 a 10, quando questionados sobre determinados temas. Os números mais baixos eram relacionados à maior presença do Estado; os maiores, à maior participação do setor privado (veja infográfico abaixo).

De acordo com o estudo, 42,7% dos entrevistados estão totalmente de acordo com a ideia de que "o Estado, mais do que o setor privado, deve ser o principal responsável por prover educação” – ou seja, responderam com a nota 1. Na outra ponta, somente 3,5% estão totalmente em desacordo com a afirmação – escolheram a nota 10. Em relação à saúde, a opinião foi semelhante: 42,2% são totalmente favoráveis, ante 3,4% que discordam totalmente.

Ambas as áreas têm estado sob ataque das forças que atualmente comandam o país. Foram afetadas pela política de corte de gastos, que tira recursos de seus orçamentos sob o pretexto de busca do equilíbrio fiscal. E também são alvos oficiais nas plataformas de governo dos partidos no poder e em discursos de ministros que pregam a redução da prestação dos serviços públicos.

O deputado Ricardo Barros (PP-PR), Ministro da Saúde até o mês passado, por exemplo, deu entrevista assim que assumiu o cargo, na qual afirmou que o tamanho do Sistema Único de Saúde deveria ser reduzido. Junto à clara sinalização contra a universalização da saúde pública, veio a defesa de planos de saúde populares para a população de baixa renda.

Antes mesmo de Temer chegar ao Planalto, o PMDB divulgou seu programa de governo, intitulado Ponte para o Futuro, no qual indicava como importante ação econômica a desvinculação dos gastos orçamentários com saúde e educação, o que provocaria a redução de verbas para os setores.

Não por coincidência, Persio Arida, coordenador do programa econômico da pré-candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência, também defende que é preciso mudar a Constituição, para retirar artigos que preveem gasto mínimo em áreas sociais como saúde e educação. Além de que um documento do PSDB, contendo diretrizes do programa que deveria pautar sua candidatura ao Planalto, propôs rever o acesso dos mais ricos a serviços públicos gratuitos.

Em um ano de disputa presidencial, a pesquisa mostra que o neoliberalismo colocado em prática por Temer não agrada o eleitor. Realizado após a entrada em vigor da Reforma Trabalhista que reduziu os direitos da base da pirâmide, o estudo aponta que 33,5% concordam totalmente que o Estado deve ser o responsável por reduzir a desigualdade de renda; apenas 3,6% discordam totalmente.

Em relação às aposentadorias, que correm risco caso a Reforma da Previdência avance, 39,6% estão totalmente favoráveis a que sejam responsabilidade do Estado, enquanto 3,6% estão em total desacordo com isso. A opinião em relação ao combate às desigualdades não é diferente.

Mesmo quando a pesquisa se afasta das questões sociais e trata de regulação, o tendência pró-Estado também vence: 14,6% são favoráveis à presença máxima do Estado e 10,5% preferem máxima liberdade para o mercado.

Enquanto PMDB e PSDB apostam todas as suas fichas nas privatizações, o levantamento informa que 17,4% estão totalmente de acordo com a ideia segundo a qual o Estado deve ser o dono das principais companhias. Outros 21,6% adotam posições próximas a essa. Os que discordam totalmente ou parcialmente são minoritários e somam apenas 28,1%.

O instituto responsável pela pesquisa é composto por representantes de quatro instituições acadêmicas principais (UFMG, Iesp/Uerj, Unicamp e UnB). Responsável pela condução da pesquisa, o cientista político Leonardo Avritzer, da UFMG, disse ao Valor que os resultados demonstram "consolidação" de um modelo de proteção social criado pela Constituição de 1988. 

"Outro aspecto a ser destacado é que o liberalismo brasileiro, pelo que a pesquisa sugere, ainda não passou na prova de que consegue organizar a proteção social, gerar melhores salários e melhores serviços de saúde e educação", disse. "A população percebe isso", completou. Um recado para os candidatos às eleições de outubro.