Na França, Macron governa para os ricos

Hiperpresidente, Emmanuel Macron é antes de tudo o presidente dos ricos. Um ano após sua eleição, ele empreendeu uma queda de braço contra o mundo do trabalho em benefício dos ricos e do patronato. Para impor sua política impopular, aproveita-se da grande turbulência de 2017 e tudo faz para atingir os alvos do seu projeto neoliberal

Por Diego Chauvet

Emmanuel Macron

Macron foi eleito presidente da República há um ano. Sua vitória resultou de uma campanha eleitoral forte em sobressaltos e constituiu uma grande turbulência da paisagem política francesa. Os dois principais partidos que faziam as maiorias presidenciais, os Republicanos e o Partido Socialista, foram eliminados do segundo turno. Os Republicanos esbarraram nos problemas que envolviam seu candidato, François Fillon. O Partido Socialista pagou a conta do desastroso quinquênio de François Hollande. A Frente Nacional foi ao segundo turno pela primeira vez desde 2002 e, na esquerda, a França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon beirou os 20%.

Mas, para além da virada que foi a vitória de Emmanuel Macron, totalmente desconhecido dos franceses cinco anos antes, outras mudanças aguardavam a sociedade francesa, que se realizam hoje e doravante e que desenham um sentido à política conduzida por aquele que se dizia nem de direita nem de esquerda, ou, ainda mais, segundo seus próprios termos, “de direita e de esquerda”. Emmanuel Macron se revelou um “hiperpresidente” usando todos os poderes que lhe confere a 5ª República. O antigo banqueiro de Rotschild usa esses poderes sobretudo no interesse daqueles que o ajudaram a chegar ao poder.

Se ele empreendeu reformas em profundidade, não é em nome dos interesses dos “mais vulneráveis”, como ele diz, referindo-se à realidade sociológica das classes populares: operários, funcionários, desempregados. Publicado após as eleições, um estudo do Ifop (Instituto francês de opinião pública) sobre o eleitorado dos candidatos no primeiro turno revelou um verdadeiro “voto de classe”. Os votos de Macron e Fillon aumentavam com o nível de renda dos eleitores, ao passo que os de Mélenchon e Le Pen seguiam a trajetória inversa.

Emmanuel Macron tirou todas as lições disso. Ele não está no poder para reconquistar as classes populares, mas para servir aos seus, ou seja, a burguesia que não cessou de enriquecer ao longo dos anos e na medida em que foram impostas políticas neoliberais.

Menosprezo de classe

O patronato francês sonhava há muito tempo pôr fim ao programa do CNR (Conselho Nacional da Resistência). Eles já tinham encontrado um líder para isso, Nicolas Sarkozy. Com Emmanuel Macron, conseguiu alguém ainda melhor… Assim que foi eleito, desde o verão de 2017, o presidente da República começou a reduzir as ajudas para alojamento, preciosas notadamente para os estudantes. Não recuou diante do clamor em contrário.

No mesmo momento, estava capacitando seu governo a golpear a lei trabalhista por meio de medidas do Executivo e sua nova pletórica maioria na Assembleia Nacional (parlamento). Em face desses primeiros ataques, a resposta sindical se organizou a partir da volta das férias de verão, em setembro. Alguns meses após sua eleição, o presidente da República enfrentava assim seus primeiros movimentos sociais. Com sua política maciçamente rejeitada pelos assalariados, que viram a ameaça aos seus direitos conquistados durante décadas de lutas sociais, novamente o presidente da República se mostrou firme e adotou rapidamente sua “reforma”. Nessa época, durante uma viagem a Corrèze, referindo-se aos assalariados em luta, ele foi bastante claro sobre como os considera: “Há alguns que, em vez de fazer bagunça, fariam melhor se fossem ver onde poderiam conseguir um lugar”. Deu a entender que em vez de se manifestar, deveriam procurar emprego. São palavras que ilustram sua consideração para com os assalariados e os desempregados. Sua reforma do seguro-desemprego se inscreve completamente nessa caminhada: quebrando o Código do Trabalho, fragilizando os assalariados, ele busca evitar o aumento do número de desempregados “reforçando” os controles. Dito de outra maneira, aumentando as pressões para que aqueles que perderam seus empregos aceitem não importa que tipo de trabalho, sob pena de perder direitos.

Nos passos de Thatcher

Desde o final do mês de fevereiro, Emmanuel Macron atacou um outro símbolo, a SNCF (Sociedade Nacional dos Caminhos de Ferro, a estatal ferroviária francesa) e o estatuto dos ferroviários. A retórica do poder sobre esta questão está bem afiada: em uma sociedade francesa em crise, corroída por desigualdades, os ferroviários e seu estatuto, conquistado com luta, seriam privilegiados. Com esta estratégia de discurso, o presidente da República tenta jogar uns assalariados contra outros. Atacando os aposentados, acusa-os de se aproveitar do trabalho dos ativos… Em face da ameaça de movimentos sociais de grande amplitude, cinquenta anos após o Maio de 68, ele tudo faz para dividir e enfraquecer o mundo do trabalho. Inspira-se na estratégia de Margaret Thatcher na Grã Bretanha dos anos 1980 (em muitas ocasiões, lembrou que esse país tinha feito reformas “necessárias” antes de nós).

Essas políticas são neoliberais e assim devem ser qualificadas. Mas, para ficar numa análise pertinente dos acontecimentos, esta política conduzida por Emmanuel Macron não é outra coisa senão luta de classes. Ela é atualmente levada a efeito pelos ricos, que dispõem de todos os instrumentos para conduzi-la: poder econômico, poder político, situação de crise desfavorável à unidade das classes populares …

O presidente da República chega mesmo a esconder mal o seu jogo, apesar de algumas frases enfáticas sobre “os mais vulneráveis”: em sua entrevista na televisão em 15 de abril, recusou-se a qualificar a evasão fiscal dos mais ricos utilizando o termo apropriado, preferindo o termo mais apresentável de otimização fiscal.

Mas os fatos, sua política, seu discurso estão patentes. Emmanuel Macron conduz uma política de classe em favor dos mais ricos e demonstrou, apenas um ano após sua chegada ao poder, que está disposto a bater com força, rapidamente e sem suavizar. A menos que a classe que ele ataca – os operários, os funcionários, os desempregados, os estudantes, os aposentados – consiga fazê-lo parar.