Mídia destaca 'taxa' em ocupação para jogar população contra movimentos

“A imprensa tem que provar que é possível manter uma ocupação onde ninguém contribua com nada”, afirmou ao Portal Vermelho, Antonio Pedro de Sousa, o Tonhão, diretor da Federação das Associações Comunitárias de São Paulo (Facesp) e Conselheiro de Habitação do Estado. Para ele, o tratamento sensacionalista em torno da contribuição no prédio que desabou em São Paulo serve para colocar a opinião pública contra os movimentos de moradia. "É preciso separar o joio do trigo".

Por Railídia Carvalho

Prédio desaba no centro de são paulo. no local 150 pessoas mantinham ocupação popular. 1º de maio - Katia Passos/Jornalistas Livres

Nesta sexta-feira (4), bombeiros localizaram um corpo nos escombros do prédio onde ocorreu a tragédia no dia 1º de maio. Segundo informações da Folha de S. Paulo, o corpo de bombeiros procura por 5 pessoas desaparecidas.

Tonhão afirmou que a imprensa se aproveita da comoção para distorcer a realidade nas ocupações. Ele esclareceu que uma contribuição é cobrada nas ocupações para arcar com gastos e manutenção do local para as pessoas viverem em segurança. “É como funciona qualquer prédio residencial onde há custeio coletivo”.

Ele explicou que “muitas ocupações são em prédios comerciais que precisam ser adaptados para moradia. E isso tem custos com projetos de hidráulica, elétrica, subdividir os espaços com divisórias. Alguns tem portaria 24 horas. A imprensa tem que provar que é possível manter uma ocupação onde ninguém contribua com nada”.

Separar o "joio do trigo"

Tonhão enfatizou que cada ocupação tem sua forma de organização e que “é preciso separar o joio do trigo” em caso de suspeita de irregularidades. “A imprensa tenta macular a imagem de todos os movimentos. A gente sabe bem que generalizar essa visão negativa dos movimentos é para deslegitimar a luta. De outro lado, eles alimentam a onda de intolerância e o fascismo contra os movimentos sociais”.

Neste cenário, o dirigente da Facesp avaliou como positiva a reunião realizada nesta quinta-feira (3) em São Paulo com diversos órgãos municipais em busca de soluções para evitar novas tragédias em ocupações em São Paulo. A convocação e mediação foi do Ministério Público de São Paulo (MP-SP).

“Ouvimos de promotores presentes na reunião sobre a importância da luta dos movimentos sociais, posição também demonstrada pelo secretário de habitação do município, Fernando Chucre. Eles não trataram a atuação do movimento de moradia como crime”, ressaltou Tonhão.

De acordo com ele, o lado positivo da atuação do movimento social, neste caso do movimento de moradia, precisa ser valorizado. “É preciso dar visibilidade à atuação e participação desses movimentos dentro dos conselhos de habitação, do Conselho nacional das cidades. A participação nos debates do plano diretor em São Paulo e revisão de leis como zoneamento. O caminho é valorizar a contribuição que os movimentos dão na construção da política urbana de um estado e do país, e não criminalizar”.