Novas eleições podem ser convocadas na Itália?

Em uma nova posição inesperada, o líder do Movimento 5 Estrelas (M5S), Luigi Di Maio, propôs nesta segunda-feira (30) ao secretário do ultranacionalista Liga, Matteo Salvini, que ambos solicitem ao presidente Sergio Mattarella a convocação de novas eleições gerais em junho deste ano na Itália

Luigi Di Maio

O M5S, partido populista, obteve a maioria dos votos como partido, mas foi superado pela coligação de direita que inclui a Liga de Salvini (extrema-direita) e o partido conservador Força Itália, de Berlusconi. 

A declaração foi dada pelo candidato do M5S a primeiro-ministro em um vídeo publicado no Facebook. Nele, Di Maio também faz duras críticas aos partidos italianos que desde as eleições de 4 de março não conseguiram chegar a um acordo para a formação do governo.

O líder do movimento antissistema ainda afirmou que o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, e a coalizão de direita entre Liga e o Força Itália (FI), do ex-premier Silvio Berlusconi, preferem negociar cargos no lugar de debater as propostas do futuro governo.

"O M5S comprometeu-se seriamente a respeitar o voto dos cidadãos, dado que obtivemos um resultado extraordinário, mas não obtivemos a maioria absoluta dos lugares o que nunca pensei que fosse fácil", ressaltou.

Nos últimos dias, o M5S abriu diálogo com o PD (que estava no poder até as eleições de março, quando obteve o pior resultado de sua história) e a ideia de um governo entre as duas legendas ganhou força, apesar de haver resistência nas alas ligadas ao ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, que, inclusive, voltou a descartar a hipótese.

"Aqueles que perderam a eleição não podem ir para o governo. Não podemos passar a mensagem de que 4 de março foi uma piada. O Partido Democrático perdeu: cabe a Salvini e Di Maio governar", disse Renzi.

Na próxima quinta-feira (3), o membros do PD realizarão uma reunião para analisar um possível diálogo com o M5S, porque a legenda está dividida no que diz respeito ao apoio dessa parceria.

Já o acordo entre M5S-Liga fracassou porque o partido antissistema, dono de um terço do Parlamento, se recusa a governar ao lado de Berlusconi, um dos pilares da aliança conservadora, que detém 42% dos assentos na Câmara e no Senado e diversas acusações por corrupção.

"Nas últimas semanas, alguns nos criticaram por tentar assinar um acordo de governo com um ou outro. Eu afirmo, o M5S é pós ideológico, nossas ideias não nem direita nem esquerda, as ideias são boas ou más, e nós tínhamos toda a intenção de trazer o resultado para casa", acrescentou Di Maio.

No vídeo, o líder do M5S também acusou Berlusconi de ser responsável por "bloquear o país durante 20 anos para defender seus interesses". Além disso, ele criticou Renzi por não aprovar o acordo com o PD "dilapidando" qualquer ideia de governo.

Durante a campanha, o M5S afirmava que não faria alianças com nenhum partido da "velha guarda", o que mudou após as sondagens indicarem sua possível vitória.

Segundo ele, todas as legendas estão fazendo de tudo para "impedir um governo da mudança" liderado pelo M5S. "Para mim não há outra solução, é necessário repetir as eleições o mais rápido possível, mas Mattarella é quem decide", ressaltou.

Convocar novas eleições é uma hipótese que o presidente Mattarella tenta evitar a todo custo, já que as urnas não mudariam radicalmente a composição atual do Parlamento.

A Itália segue com altissímos níveis de desemprego, especialmente entre os jovens, e a falta de organização diante do número cada vez maior de imigrantes que desembarcam no país. Após o governo anterior, liderado pelo PD, adotar medidas de cunho neoliberal, os italianos passaram a aderir ao discurso populista empregado pela Liga mas especialmente pelo M5S, que conseguiu abraçar em seu discurso imediatista as necessidades dos italianos.