Isolar e derrotar o fascismo: tarefa dos nossos estranhos dias

"É preciso trazer para o nosso lado os homens e mulheres que participaram das vergonhosas manifestações golpistas e que se arrependeram do apoio a Aécio, Temer e demais aventureiros. Só assim isolaremos e derrotaremos o fascismo".

Por Renan Araújo*

Direita fascismo - Foto: André Tambucci / Fotos Públicas

O fascismo deu as caras no Brasil. Desde 2013, com as manifestações “não é só por 20 centavos” ele ensaiava ocupar espaço entre nós. Àquela época o Brasil tinha menos de 5% de desemprego, a economia ia relativamente bem, apesar da crise mundial. Surgiram então os black blocs e as máscaras do anonymous. As reivindicações explodiram nas ruas e diversos atos de violência aconteceram. Teve gente de esquerda acreditando que aquilo era um avanço na luta social. Pus minhas barbas de molho.

De lá para cá o fascismo só cresce. As máscaras caíram e o fascismo de apresenta com sua cara: através da candidatura Bolsonaro, do assassinato de lideranças populares, dos tiros à caravana de Lula e ao acampamento Marisa Letícia em Curitiba.

A Globo insuflou o ódio, os coxinhas insuflaram o ódio. Gente até então pacífica vibrou com os xingamentos a Dilma puxados por Luciano Huck nos estádios. Gente até então pacífica começou a achar divertido bonecos de plástico enforcados em pontes e pendurados em postes.

Vieram as eleições de 2014 e o fascismo embarcou na onda de Aécio. Bolsonaro & filhos estavam firmes na campanha, encampada também pela Rede Globo de Televisão (a mãe de todos os golpes).

Com a vitória de Dilma, assanharam-se os abutres, os corvos, as aves de rapina, em vôos certeiros sobre nossa frágil democracia. E veio o golpe. Com o golpe, a subversão de valores, o desrespeito às regras do jogo (olha Moro ai peitando o STF), e abriu-se um campo enorme para as manifestações abertamente fascistas, com 19 assassinatos já registrados de lideranças populares e balas contra um acampamento pacífico, com idosos e crianças.

Analisando historicamente esses tempos, sabemos que trata-se de um momento que será superado. O fascismo se alimenta de um ódio artificial plantado na pequeno-burguesia e setores médios da nossa sociedade. Em verdade, do ponto de vista de classe e de interesses econômicos, o fascismo só serve à grande burguesia. Essa turma que anda destilando ódio e vomitando por aí não vai ganhar nada com isso e já vai percebendo que suas contradições e desejos não serão resolvidos com essa aventura marcada por ódio e violência.

Até setores conservadores da sociedade, que antes incentivaram tais manifestações, começam a se assustar com os métodos anticivilizatórios utilizados e começam a adotar, e adotarão cada vez mais, posição mais ponderada e crítica em relação a esses abusos. Boa parte dos “camisas de seleção” só as vestirá, doravante, para torcer pela vitória da turma de Tite na Copa da Rússia.

Mas temos uma facção fascista no Brasil que é mais difícil de ser derrotada, porque se utiliza de armas mais camufladas e travestidas de legalidade, que é o fascismo de toga. Moro é o líder, Dallagnol o sub-chefe, e um bando de concurseiros medíocres seus fieis seguidores.

Utilizando-se da “caneta da legalidade”, cumprem um papel que antes era cumprido por forças militares: prender, torturar para obter “confissões”, subjugar a política, desrespeitar a vontade soberana das urnas.

Enquanto a verdadeira justiça não se insurgir contra essa turma, e resgatar os valores republicanos, não retornaremos (ou não teremos) a verdadeira democracia.

Mas o que cabe ao povo nesses tempos estranhos? Não nos resta outra alternativa a não ser as ruas, as manifestações, a denúncia, a mobilização permanente pela democracia, pelos direitos vilipendiados.

É preciso trazer para o nosso lado o jovem pobre da periferia que hoje diz ser Bolsonaro um mito.

É preciso trazer para o nosso lado os homens e mulheres que participaram das vergonhosas manifestações golpistas e que se arrependeram do apoio a Aécio, Temer e demais aventureiros. Só assim isolaremos e derrotaremos o fascismo.

É preciso perseguir o sonho democrático, que hoje se materializa no Lula livre e garantia das eleições em 2018.