Nova história, grande presente: a paz entre as Coreias se aproxima

Kim Jong-un, tornou-se nessa sexta-feira (27) o primeiro líder da Coreia Popular a cruzar a fronteira com a Coreia do Sul, em um momento histórico entre dois países que vivem uma guerra que nunca terminou. Kim foi ao país vizinho para um encontro extraordinário com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in. Ambos anunciaram a paz, prometerem a desnuclearização da península

Kim e Moon - AP

Quando Kim se aproximou da área demarcada como o limite entre fronteiras, ambos os líderes se saudaram com um efusivo – e histórico – aperto de mãos, enquanto trocavam sorrisos e palavras, com gestos distendidos. Inclusive com ares despreocupados: depois de posar para os fotógrafos no lado sul-coreano, Kim murmurou umas palavras a Moon e ambos cruzaram a linha de demarcação para o lado do Norte, em um ato espontâneo, e assim tirar fotografias também em chão norte-coreano.

“Os dois líderes declaram perante o seu povo de 80 milhões de pessoas e perante o mundo inteiro que não haverá mais guerra na península da Coreia e que começou uma nova era de paz”. Esse é o resultado do encontro inédito entre Kim Jong-un e Moon Jae-in, na zona desmilitarizada que separa as duas Coreias, e que consta da declaração conjunta assinada pelos dois líderes. Anexada à paz, asseguram, está a promessa de um esforço conjunto para a “total desnuclearização” da península.


O momento em que os líderes se encontraram e cruzaram ambas as fronteiras juntos

“Faremos esforços para criar bons resultados (…) para que possamos garantir que o acordo que hoje assinámos perante o mundo inteiro não seja apenas um começo, como foram os acordos anteriores”, disse o líder norte-coreano, citado pela Reuters.

Na declaração, os representantes máximos dos dois países – tecnicamente em guerra deste 1953 – comprometem-se a cessar de imediato todas as atividades hostis, iniciando um desarmamento faseado para transformar a zona desmilitarizada numa “zona de paz” e para promover negociações multilaterais com países como China e Estados Unidos.

Apesar da atenção mundial estar sempre voltada para os testes nucleares empreendidos pela Coreia Popular, o exército dos EUA em conjunto com forças sul-coreanas possui um forte armamento na fronteira, e não raramente inicia ataques contra o norte. Se o acordo de paz visar terminar com quaisquer atos hostis, incluirá não só os testes norte-coreanos, mas também as ações do exército do Sul na fronteira.

Ambos caminharam pelo tapete vermelho estendido especialmente para receber Kim. Depois da solene cerimônia de boas-vindas, ambos celebraram ao longo de todo o dia na Casa da Paz de Panmunjom, na Zona Desmilitarizada, a primeira cúpula de mandatários coreanos em onze anos. Os dois líderes plantarão conjuntamente um pinho, que invoca suas origens em 1953, no ano em que se assinou o armistício militar.

O líder da Coreia Popular escreveu no livro de honra: "Uma nova história começa agora" e " é tempo para a paz e para começar um novo momento na história". Além disso Kim Jong-un disse na reunião com o presidente Moon Jae-in que não quer que se produza uma repetição do passado onde não puderam ser "cumpridos os acordos", afirmou.


Líderes cruzam de mãos dadas área demarcada como limite entre Coreias

"Sinto-me muito feliz. A primavera está aqui na Coreia e espero que todo mundo esteja influênciado por essa primavera", disse por sua vez Moon Jae-in em referência à cúpula na que ambos países esperam alcançar uma paz que "florescerá" a partir do encontro. Assim mesmo, o líder sul-coreano agradeceu ao "secretário geral do Partido dos Trabalhadores por ter aceito se reunir". "Por que não selamos um acordo de paz que seja um presente para o mundo?", afirmou. "Nas últimas sete décadas não pudemos falar e poderíamos estar falando diariamente", continuou Moon.

Os dois líderes tiveram conversas “sérias e sinceras” sobre a paz e a desnuclearização da península. O objetivo é conseguir um acordo que seja “um grande presente para toda a nação coreana”. Moon manifestou a esperança de visitar Pyongyang “em breve”; e Kim, a de ter reuniões frequentes.

Kim afirmou ter sentido um “turbilhão de emoções” depois da reunião inicial e indagou-se sobre a razão “pela qual demorou tanto” até se encontrarem, tendo ambos prometido que se deveriam encontrar mais vezes. Kim disse ainda que estavam a construir uma “nova História” nas relações da Coreia, com paz e prosperidade.

A imagem dos dois líderes caminhando e conversando juntos em uma ponte tem muita força dentro do imaginário coreano, onde a cena é interpretada como um momento de transição em que um passado marcado pela divisão é deixado para trás e se avança em direção a um futuro compartilhado.

O possível acordo de paz

Até hoje as duas coreias não colocaram um fim oficial à Guerra da Coreia (1950-1953), apenas uma trégua graças ao armistício. O sucesso desse acordo, que nesse encontro ficou claro como é do extremo interesse de ambos os líderes coreanos, depende também dos Estados Unidos, que assinou o armistício, para ser concluído.

Donald Trump, que terá um encontro com Kim Jong-un em maio, se posicionou sobre o encontro entre os líderes coreanos em sua conta no Twitter, como de costume. “A Guerra da Coreia vai acabar. Os Estados Unidos, e todas as suas excelentes pessoas, devem sentir-se orgulhosos com o que está a acontecer na Coreia”, escreveu o presidente norte-americano na rede social. Apesar da retórica extremamente agressiva que Trump desempenhou nos últimos meses contra a Coreia Popular, agora o líder americano parece aceitar melhor a proposta de negociar e chegar a um acordo pacifico através do diálogo.

Rússia, Japão e China também reagiram com satisfação à declaração conjunta e esperam agora pelos passos seguintes.