Ao colocar Unasul em xeque, direita desmonta a integração regional

A Unasul é um dos principais mecanismos de integração da América Latina. Passados dez anos de sua fundação, a onda neoliberal que avança sobre o continente tenta desmontá-lo, para investir em organismos voltados ao comércio apenas e ao desmonte dos Estados.

Por Mariana Serafini

Presidentes de direita da Unasul - Divulgação

Desde que Ernesto Samper deixou a secretaria-geral da Unasul, no final do ano passado, o cargo está vago. Enquanto isso, a transição de presidência pró-tempore segue seu ritmo normal e neste mês foi passada à Bolívia, que assume para o período de 2018 – 2019. No entanto, tão logo o país andino ocupou a frente do organismo, recebeu o golpe inesperado das nações que hoje são controladas por governos neoliberais.

Uma carta assinada por Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Paraguai e Peru anunciava a decisão destes países de não mais participar das próximas reuniões da Unasul e a intenção de tomar medidas mais drásticas. O argumento é de que há falhas no funcionamento interno do organismo e muita demora para a eleição de um novo secregário-geral. Se há falhas, ao invés de corrigi-las, estes países preferiram aproveitar a oportunidade para dar o bote, a fim de enfraquecer o projeto de integração iniciado pelos governos progressistas há mais de uma década.

Trata-se, porém, de um desmonte anunciado. Em novembro passado, o presidente argentino Maurício Macri manifestou sua vontade de abandonar o organismo. À época, o país exercia a presidência pró-tempore, que agora foi passada para a Bolívia.

O principal argumento de Macri era de que a Alba havia rejeitado a candidatura de José Octaviano Bordón, pupilo do presidente argentino, para ocupar a secretaria-geral da Unasul. A ação argentina prejudicou imediatamente projetos de infraestrutura e acordos comerciais em curso na região. Agora com o afastamento dos demais países, perdem todos.

Esta saída atropelada significa um golpe na integração regional desenvolvida ao longo de uma década pelos governos progressistas. Vale ressaltar, contudo, que desde seu nascimento, a Unasul sempre abarcou as mais diversas ideologias, tanto que, entre seus principais integrantes estavam líderes de extrema direita como Álvaro Uribe (Colômbia), Nicanor Duarte (Paraguai) e Alan García (Peru).

Integrada por Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela, hoje poucos líderes estão dispostos a lutar pela manutenção da Unasul. O presidente boliviano, Evo Morales, manifestou recentemente sua vontade de “relançar” a Unasul e a Celac com projetos de infraestrutura, desenvolvimento energético e consolidação da cidadania sul-americana a fim de impulsionar o funcionamento destes organismos.

Mas agora, com este boicote impulsionado por metade do bloco, os desafios de integração aparecem cada vez maiores, uma vez que o objetivo dos neoliberais é fortalecer apenas as relações de mercado e a subserviência às potências estrangeiras, como os Estados Unidos e a União Europeia. Prova disso é o esforço que os líderes da direita têm empenhado para fortalecer o Grupo de Lima (Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru).

Com mecanismos internos enfraquecidos, aumenta a ingerência dos Estados Unidos e, em consequência, a dependência da região às “soluções” apresentadas pelo Banco Mundial e FMI – nada voltadas a resolver as demandas dos setores mais populares.

Diante dos retrocessos que assolaram o continente no último período – reformas impopulares aprovadas no Brasil e Argentina, judicialização da política em diversos países, crescimento da direita no Peru, volta dos neoliberais no Chile – desativar a Unasul é um passo a mais rumo ao fim do projeto de integração criado pelos governos progressistas cujo principal objetivo é consolidar a soberania dos povos.