“O medo e o ódio não são propostas para sair da crise”, afirma Manuela

"Esta eleição é a possibilidade de discutirmos o futuro do Brasil e por isso queremos estar nela", afirmou a pré-candidata do PCdoB à presidência da República, Manuela D'Ávila, em entrevista ao jornal Correio Braziliense desta segunda-feira (23).

Manuela

"O PCdoB tem propostas para enfrentar a crise que vive o país. Defendemos um projeto de desenvolvimento que retome o crescimento econômico, promova a reindustrialização, fortaleça a indústria nacional, que produza riquezas para serem distribuídas para as pessoas, garanta direitos sociais e individuais e tenha políticas públicas para as mulheres, a juventude, os negros, as periferias", reafirmou Manuela, destacando que a "reforma do Estado" deve ser para "torná-lo mais democrático e capaz de induzir o desenvolvimento com distribuição de renda e valorização do trabalho".

Manuela afirma que a crise política exige a unidade da esquerda e dos democratas em torno da defesa da Constituição, principalmente no segundo turno. "No segundo turno, as candidaturas progressistas poderão estar unidas em torno do melhor projeto para tirar o Brasil da crise", firsou.

Segundo ela, "a diversidade de candidaturas progressistas favorece um debate de contraposição" às candidaturas ultradireitistas que tentam converter "em ódio o medo legítimo que a maioria da população tem diante da crise econômica, do desemprego, do desespero por não saber se haverá comida para os filhos".

"O medo e o ódio não são propostas para sair da crise. O Brasil é maior que isso, e, com o bom senso das pessoas, nós faremos um debate sobre essas ideias retrógradas e as derrotaremos nas urnas. A solução para a crise precisa ser democrática, solidária, humanista e desenvolvimentista. Os partidos do campo progressista, por meio das fundações partidárias vinculadas ao PCdoB, PSB, PDT, PT e PSol, lançaram o documento “Unidade para Reconstruir o Brasil”, com pontos em comum que servem de plataforma para seus candidatos e poderá ser a base da união em um segundo turno. Tenho certeza de que, no segundo turno, estaremos unidos em torno da candidatura que expressar um futuro melhor para o Brasil", afirmou Manuela ao Correio.

Ela enfatizou que, diferentemente de outras legenda, o PCdoB tem "um olhar especial para as mulheres, especialmente para a relação das mulheres com o mercado de trabalho".

"Hoje, há uma situação inacreditavelmente injusta: por volta de 50% das mulheres que têm filhos não conseguem retornar e permanecer no emprego que tinham antes. A ausência de creches e escolas de educação infantil coloca as mulheres em desvantagem no mercado de trabalho, e transforma as avós em cuidadoras permanentes. Há pesquisas demonstrando que, em função de ter filhos, as mulheres são obrigadas a aceitar salários muito menores até que o de outras mulheres", apontou a pré-candidata, que classifica a diferença salarial entre homens e mulheres "como uma verdadeira chaga nacional"

Sobre a segurança pública, uma dos temas que mais preocupa os brasileiro, Manuela defende que seja encarada como assunto central do governo. "Defendo uma política pública que crie um fundo nacional de segurança pública.Também quero debater com a sociedade o problema de as nossas polícias não fazerem o ciclo completo da atuação policial (prevenção, repressão e investigações dos crimes), como ocorre em quase todos os países".

O PCdoB defende no STF o fim da prisão em condenação em segunda instância. Essa sempre foi a posição do partido? O mecanismo não ajuda no combate à corrupção?
A Constituição é muito clara na sua declaração de direitos estabelecendo a presunção da inocência e a necessidade do trânsito em julgado para a prisão. A demanda pela celeridade da justiça é correta, mas não pode ser feita contra a Constituição e os direitos individuais. O combate à corrupção é fundamental. É preciso garantir a transparência absoluta no governo. Mas isso não pode se contrapor à Constituição.

Questionada sobre qual a opinião sobre os resultados a Lava Jato, Manuela disse que operação surgiu "com o bonito interesse de combater a corrupção, mas se tornou uma operação “midiatizada”, com medidas ilegais e dirigismo político".

"Talvez sua principal herança positiva seja o fim do sistema de financiamento privado das campanhas", salientou a pré-candidata. Ela lembrou que o PCdoB sempre defendeu financiamento público de campanhas, em contraposição ao financiamento empresarial. "A proibição de financiamento por empresas é uma das nossas bandeiras para uma reforma política democrática. Como não fizemos uma reforma política de verdade, mas remendos, esta proibição não vem acompanhada de outras medidas permanentes, estruturais, que busquem combater o poderio econômico nas disputas eleitorais", disse.

E completou: "De todo modo, desta vez, haverá um fundo de financiamento público para as campanhas, o que pode ajudar a controlar os gastos e — quem sabe? —reduzir os custos da eleição. Espero que isso torne menos desiguais as disputas, mas é preciso fazer uma reforma política realmente democrática, a partir de um debate com a sociedade".