“O novo não é a negação da política”, afirma Manuela

“Não acredito que o novo é a negação da política”, afirmou a pré-candidata do PCdoB à Presidência da República, Manuela D’Ávila, em entrevista à revista Época desta semana, desmontando o discurso da direita que se apresenta candidatos sob a fachada de “renovação”, com um discurso de criminalização da política e com os velhos projetos que têm o mercado financeiro como principal fiador.

Manuela

“Acho que sou o novo na política de fato, do ponto de vista da forma como me elegi e como construí minha trajetória”, reforçou Manuela, que respondeu às mesmas perguntas que o candidato de espectro político oposto, o direitista João Amoêdo, pré-candidato do Partido Novo que tem entre seus afiliados membros do MBL e do Vem Pra Rua, mas também inclui nomes como o ex-presidente do Banco Central do governo FHC, Gustavo Franco.

A declaração da Manuela foi em resposta à pergunta: quem é o novo e o velho entre os dois? “Eu represento a renovação real da política. Sou uma mulher jovem que construiu a trajetória com as próprias pernas, sem ter um partido grande, sem ser aliada aos interesses econômicos ou a um projeto que represente os interesses econômicos mais expressivos do mundo que atuam inclusive no Brasil hoje. Eu me vejo assim na vida real, não como elemento de discurso. Minha trajetória foi assim sempre”, argumentou.

Para Manuela, o discurso de que os partidos não são instrumentos importantes não representa o novo, mas é apenas uma espécie de embalagem nova para velhos ideais.

“Não acredito que o novo é o discurso de que os partidos não são instrumentos importantes. Ou que é possível concorrer a uma eleição só com o dinheiro privado. Isso para mim não é o novo. Isso é o velho, isso já existia. Mas não essa dicotomia de colocá-lo como velho, porque isso pode gerar um outro sentido que eu jamais daria, porque isso seria deseducado e eu não sou deseducada”, salientou.

Amoêdo, por sua vez, respondeu que preferia falar de ideias e, a partir de sua visão conservadora, disse que a ideia de que “o Estado vai resolver todos os nossos problemas e que, concentrando o poder no Estado, isso vai funcionar são ideias que ela [Manuela] tem, que no meu entender são ideais velhas, que não funcionaram em nenhum lugar do mundo para trazer prosperidade”.

A visão de “prosperidade” de Amoêdo está ligada aos interesses do mercado que ele representa. O banqueiro disse recentemente por meio das redes sociais que o seu projeto é “combater a pobreza e não necessariamente a desigualdade”.

“Somos, felizmente, diferentes por natureza. O combate à pobreza se faz com o crescimento e com a criação de riqueza, e não com a sua distribuição”, disse. A declaração foi rebatida pela própria Manuela: “Essa turma do antigo com roupa nova quer transformar a desigualdade social em algo natural. Para eles a escravidão, as capitanias hereditárias, as benesses da amizade secular com o Estado que dizem combater são ‘naturais’. Desigualdade social não é natural!”.

Na entrevista à Época, a visão liberal de Amôedo ficou ainda mais evidente quando o tema era privatização. Para Manuela, a privatização de setores estratégicos ameaça a soberania e o desenvolvimento.

“É melhor desenvolver, e para desenvolver não podemos privatizar setores estratégicos para o Brasil, como é o casso da energia, que é estratégico para a indústria e para a soberania nacional”, frisou Manuela.

Seguindo a cartilha do mercado, Amoêdo disse que “certamente é melhor privatizar”. Diferentemente de Manuela, que pontuou a partir dos interesses nacionais, o pré-candidato do Partido Novo disse que privatizar é melhor “porque as pessoas devem ter liberdade de escolher quais empresas são acionistas ou não”.