Pesquisadores bolsistas denunciam o desmonte da Ciência e Tecnologia

O desmonte da ciência continua em 2018. Desde 2016, os cortes prejudicam o desenvolvimentos e continuidade de pesquisas. Diante deste cenário, bolsistas CAPES e CNPq fizeram um documento com depoimentos de pesquisadores bolsistas para mostrar e denunciar a transformação que a área de Ciência, Tecnologia e Inovação está sofrendo.

Por Verônica Lugarini

pesquisa, ciência - agência brasil

As mudanças no setor não são positivas. Desde 2016, os investimentos em pesquisas e nos pesquisadores brasileiros foram drasticamente reduzidos. Em 2017, houve queda de 44% nos recursos destinados ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Agora, em 2018, o valor destinado à área deve ser ainda menor (cerca de 19% em relação ao ano anterior).

Ano passado, o próprio CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) por pouco não precisou interromper os pagamentos de bolsas e projetos por falta de investimento. Apenas nesse órgão, a consequência seria a interrupção do pagamento de bolsas de estudo para 90 mil estudantes e 20 mil pesquisadores.

Em entrevista anterior ao Portal Vermelho, a presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Tamara Naiz, abordou os impactos do contingenciamento que não são sentidos imediatamente, mas que daqui alguns anos será notável.

"Em pouco tempo, em questão de um ano, as pesquisas que acabamos de fazer se tornarão obsoletas e será necessário fazer um investimento muito maior para recuperar um pouco das perdas que estamos tendo agora”, disse Tamara Naiz.

De acordo com os cientistas brasileiros, entidades científicas e movimentos sociais participantes do manifesto, a Educação e a Ciência são a base para o progresso, desenvolvimento econômico e justiça social para todos.

Por isso, a intenção do manifesto é documentar o desmonte do setor por meio de depoimentos que mostram a vivência e a realidade dos pesquisadores brasileiros. Muitos dos relatos, que constam no documento, abordam a expansão do ensino e consequentemente a possibilidade de estudantes, que não tinham capital financeiro, de conseguirem cursar uma universidade e posteriormente, se tornarem pesquisadores. Esse é o caso de Viviane de Almeida Bastos.

Ela conta em seu depoimento que é filha de uma dona de casa e de um vendedor e prestou vestibular justamente quando houve a expansão de vagas nas universidades públicas brasileiras.

Conseguiu passar na Universidade Federal Fluminense, depois conquistou uma bolsa de Iniciação Científica pelo Programa PIBIC/CNPq e posteriormente, uma bolsa de Mestrado e uma de Doutorado pela CAPES via um programa especial. Agora, Viviane está terminando o doutorado em Bioquímica pela UFRJ. Ela completa seu texto agradecendo ao ex-presidente Lula pela oportunidade de estudo.

Em outro depoimento, Jefferson Costa desabafa e diz que só consegue morar na capital de Alagoas, Maceió, em virtude de uma bolsa da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

“Oriundo de uma cidade do interior do estado de Alagoas com 60 mil habitantes. Graças ao processo de interiorização das Universidade Federais e ao sistema de cotas fui o primeiro de minha família possuir ensino superior. Hoje, o menino negro, pobre, gay do interior do estado de Alagoas consegue residir na capital cursando uma pós-graduação stricto senso em virtude de uma bolsa da CAPES”, diz Jefferson.

Sobre o aumento de investimentos e avanço Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação o documento aponta que essa evolução foi decisiva na mudança da estrutura social de muitos brasileiros e brasileiras e aconteceu durante os governos Lula e Dilma.

O salto entre os anos 2002 e 2012 nas bolsas de mestrado foi de 13.054, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, para 43.591. E isso, as bolsas de doutorado saltaram de 10.180 para 27.589.

Além disso, o manifesto também destaca a necessidade do “acesso à educação pública, gratuita e de qualidade é um direito de todos garantido pela Constituição Federal e que deve ser respeitado e progressivamente estendido às camadas mais pobres e marginalizadas da sociedade”.

A iniciativa do documento surgiu dentro de um network entre os pesquisadores brasileiros. A rede é uma plataforma para troca de experiência e debate sobre assuntos relevantes para a ciência brasileira.

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