Câmara cobra apuração sobre violência policial em Curitiba

A Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados encaminhou, nessa segunda-feira (9), ofícios para órgãos do governo federal e autoridades do Paraná cobrando apuração dos atos de violência praticados pelas forças policiais na noite de sábado (7), em Curitiba.

Repressão em Curitina no dia da chegada de Lula na sede da PF - Gibram Mendes / Brasil de Fato

Em âmbito estadual, o pedindo de esclarecimentos e investigação sobre o fato foi remetido ao governo estadual, à Secretaria de Segurança e ao Ministério Público. Já na esfera federal, a cobrança chegou aos ministérios da Justiça e da Defesa, e à Procuradoria-Geral da República.

A repressão da Polícia Federal e da Polícia Militar começou por volta das 22h30, momento em que o ex-presidente Lula chegava de helicóptero à Superintendência da PF, após ter se apresentado em São Paulo. A PF lançou bombas de gás lacrimogênio e a PM disparou bala de borracha contra cerca de duas mil pessoas que faziam vigília em frente à Superintendência.

Pelo menos 24 pessoas ficaram feridas, conforme apuração do Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia (CAAD). Deste total, há 17 mulheres e um adolescente.

Boletim de Ocorrência

Giuliana Rocio Alboneti, advogada integrante do CAAD, relata que houve resistência do 4º Distrito Policial de Curitiba em registrar o Boletim de Ocorrência logo após o ocorrido. “Quando nós ligamos procurando pelo plantão, a pessoa que atendeu disse que fariam o boletim somente na manhã de domingo. Nós avaliamos que isso é absolutamente incompatível com o que é o nosso trabalho, e acionamos as prerrogativas da OAB”.

Por conta disso, a pedido do Coletivo de Advogados, imediatamente a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) destacou o presidente da Comissão de Direitos Humanos, Alexandre Salomão, para acompanhar a ida ao Distrito Policial ainda na madrugada de domingo, quando o boletim foi feito. O registro reuniu a denúncia de 12 atingidos, com a classificação da ocorrência como “Lesão Corporal” e “Crimes contra a pessoa”.

Feridas

Durante a ação da PF e da PM, bombas de efeito moral foram lançadas contra o ato, que ocorria desde a manhã e reunia representantes de quatro denominações religiosas diferentes, artistas, famílias, professores e estudantes, além de militantes dos movimentos populares que integram as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular.

Vanda de Assis, a assistente social servidora pública da prefeitura de Colombo, foi atingida por estilhaços de uma bomba. "Tinha mulheres, crianças e idosos no local, todos em paz. […] Não dava nem para acreditar que alguém teria coragem para jogar uma bomba tão potente no meio das pessoas", disse Vanda à Rádio Brasil de Fato. Vanda foi socorrida por amigos e levada para o Hospital Universitário Cajuru, onde chegou por volta das 23h, mas só foi atendida depois das 5h.

A professora Marlei Carvalho Fernandes, vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE) e integrante do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP Sindicato), ficou ferida no joelho por tiro de bala de borracha.

Ferida e atingida também pelo gás lacrimogêneo, a professora precisou de ajuda para sair do local. Ela chegou a ir ao hospital e a levar pontos no local o ferimento. "É tudo muito violento, muito rápido, impactante, mas cada vez mais nós vamos juntando e seguiremos a vigília até que Lula esteja livre", garante a professora.