No a las SAD: Torcedores brasileiros se solidarizam com argentinos

"Saudamos o esforço dos torcedores do país vizinho em sobrepor a importância dessas lutas às rivalidades entre clubes, tarefa difícil, que exige maturidade e que também temos enfrentado no Brasil. Assim como nossa resistência abraça todas as bandeiras, ela também deve transcender fronteiras".

No a las Sad

Em resposta à ofensiva do governo de Mauricio Macri, na Argentina, que pretende forçar a transformação dos clubes de futebol em Sociedades Anônimas Desportivas (SAD), torcedores argentinos estão deixando a rivalidade em segundo plano para resistir ao iminente ataque contra o futebol local. Em solidariedade à luta dos torcedores do país irmão, aglutinados na Coordinadora de Hinchas, o coletivo Futebol Mídia e Democracia e diversas organizações publicam nota, nesta segunda-feira (9), fortalecendo o movimento de protesto dos vizinhos e recordando que a ofensiva contra o futebol democrático e popular não é exclusividade do lado de lá da fronteira.

Leia a nota na íntegra:

Nota de apoio do torcedores brasileiros aos hinchas argentinos – “NO A LAS SAD!”

Parte de um efervescente movimento de torcedores, ativistas, comunicadores sociais e militantes em luta por um futebol mais democrático e popular no Brasil, nos solidarizamos com a luta correspondente de nossos irmãos argentinos aglutinados em torno da Coordinadora de Hinchas.
Cientes da grave ameaça ao entendimento do futebol como patrimônio cultural de nossos povos, manifestamos nosso absoluto repúdio à proposta de transformar os clubes do futebol argentino em sociedades anônimas desportivas (SAD). Para nós, a investida mercantilista em curso na Argentina usa armas diferentes, mas tem o mesmo objetivo que combatemos no Brasil: a extinção da cultura de arquibancada, a exclusão dos pobres dos estádios, a manutenção e ampliação do poder dos donos do esporte mais popular de nossos países, além da redução de um dos mais importantes elementos culturais de nosso continente em um produto meramente mercadológico, midiático e esterilizado.

Para nós, o projeto em curso na Argentina não pode ser compreendido como um fato isolado. Trata-se de mais uma peça em um tabuleiro que atenta contra o nosso futebol. Neste cenário, acreditamos ser indissociável, do projeto em curso na Argentina, o processo de elitização das arquibancadas vigente no Brasil, através de ingressos caros e cada vez mais inacessíveis aos cidadãos de baixa renda; o poder sem limites de dirigentes das instituições que mandam no futebol a nível nacional e continental; e a atuação dos monopólios midiáticos, que atropelam os torcedores, a sociedade civil organizada e a democracia com seus interesses econômicos e de classe.

Para além do nosso atual esforço empreendido na campanha “Ingresso Caro Não”, pauta urgente para torcedores de todos os clubes brasileiros, também alertamos que há um projeto real de transformação de nossos clubes em empresas em curso, resgatando os objetivos da fracassada Lei Pelé (1998). A ameaça de transformação dos clubes brasileiros em empresas também é real.

Saudamos o esforço dos torcedores do país vizinho em sobrepor a importância dessas lutas às rivalidades entre clubes, tarefa difícil, que exige maturidade e que também temos enfrentado no Brasil. Assim como nossa resistência abraça todas as bandeiras, ela também deve transcender fronteiras.

Assinam abaixo organizações torcedoras brasileiras que lutam pela democracia nos clubes e nas arquibancadas.

Futebol, Festa Popular!

Assinam:
Coletivo Futebol, Mídia e Democracia
Coletivo Democracia Corinthiana – SC Corinthians P
Coletivo Democracia Santacruzense – Santa Cruz FC
Frente Vitória Popular – EC Vitória
Flamengo da Gente – CR Flamengo
Movimento Clube do Povo – ABC Futebol Clube
Massa e Raça 88 – EC Bahia
Movimento Ocupa Palestra – SE Palmeiras
Resistência Azul Popular – Cruzeiro EC
O Povo do Clube – SC Internacional