Mais um primeiro-ministro xenófobo para compor o cenário europeu

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, do partido de direita, nacionalista e populista Fidesz, venceu novamente as eleições na Hungria no último domingo (8), atingindo o seu terceiro mandato e tornando-se mais um no poder a adotar medidas da extrema-direita na Europa

Viktor Orbán

Orbán, com discurso fortemente nacionalista e ultraconservador, ganhou em uma eleição que teve a participação mais alta dos últimos anos; ele vendeu com 49% dos votos. Com isso, consolida o nacionalismo no Leste Europeu e reforça sua aliança regional, que ele lidera contra uma maior integração com Bruxelas (uma vez que seu partido é radicalmente anti-União Europeia). Mais uma vez, uma vitória populista e da extrema-direita para mostrar que o discurso fascista está voltando com força para o continente.

O primeiro-ministro húngaro, entusiasta do discurso anti-comunista, compareceu ante milhares de seguidores num evento organizado por seu partido em Budapeste, onde proclamou a vitória. Sob aplausos, entoou uma canção tradicional húngara e agradeceu os eleitores, segundo informa o jornal espanhol El País. O político foi durante um tempo a grande promessa liberal das recentes democracias da Europa Oriental, mas se transformou numa das vozes mais conservadoras da União Europeia.

Seu governo é altamente populista e xenófobo; Orbán se diz entusiasta do que chama de “democracia não liberal”, e se apresenta como o grande defensor e o salvador dos valores cristãos tradicionais. Além disso, Orbán foi o primeiro a promover a rejeição da política migratória comum e as reformas institucionais (como o sistema eleitoral, a Constituição e o sistema de Justiça) muito criticadas por outros países, uma vez que diminuem sua autonomia frente ao governo no poder. Essas mudanças permitiram manutenção do partido no poder – os círculos eleitorais foram redesenhados para benefício do Fidesz – e esmagar a oposição. Depois dele, os países vizinhos aplicaram as mesmas reformas; a última foi a Polônia, também sob um governo de extrema-direita.

O jornal português Público aponta ainda que os órgãos de comunicação públicos na Hungria são hoje pouco mais do que microfones do Executivo, e os privados passaram para as mãos de empresários próximos do Fidesz.

O Público esclarece que muito do sucesso do Fidesz está relacionado com a melhoria dos indicadores econômicos e com os benefícios concedidos às famílias. No ano passado, a economia cresceu 4%, alavancada por um boom no setor da construção, mas ironicamente também pelos apoios europeus – entre 2008 e 2015, a Hungria era o terceiro Estado-membro que recebia mais fundos europeus.

As modificações nas instituições aplicadas por Orbán também modelaram o Estado húngaro para transformá-lo numa nação que promove a primazia dos valores cristãos e o nacionalismo. Reformas que os mais críticos dizem que acabaram com a democracia na Hungria, onde, já se chegou a dizer, foi instituída uma forma suave de autocracia. Medidas muito similares, embora mais veladas, às que o partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS) implementou na Polônia. Os poloneses do PiS consideram Orbán como um de seus aliados, conforme reitera o El País.

O jornal espanhol ainda lembra que a Hungria e Orbán foram os primeiros a se opor ao sistema de cotas acordado por maioria na UE e que Orbán se negou taxativamente a acatar. O país do Leste teria que acolher cerca de 1.200 requerentes de asilo que hoje vivem na Itália ou na Grécia, para reduzir um pouco a pressão migratória existente nesses países, mas acabou por não acolher nenhum. Aliás, o discurso de Orbán sobre o risco de “hordas” de indocumentados muçulmanos aguardando para entrar no país (especialmente em 2015, com o agravamento da crise migratória por conta da Guerra na Síria) assustaram muita gente, permitindo que a xenofobia se espalhasse entre o povo húngaro.

Uma oposição formada por socialistas enfraquecidos e supostos “ex-nazistas”

Parte do motivo pelo qual Viktor Orbán venceu novamente está também relacionado com uma oposição fraca. O Jobbik, um partido tradicionalmente ainda mais à direita que o Fidesz (se é que é possível), conotado com uma agenda profundamente xenófoba e conservadora, vem se direcionando mais para o centro-direita para oferecer uma alternativa “moderada” e cativar quem estaria ao centro.

O Jobbik, que se aproveita do descrédito da esquerda entre os eleitores após diversos casos de corrupção, se tornou no maior partido da suposta oposição. O partido de falso centro até pouco tempo propunha a elaboração de uma lista para identificar todos os judeus na Hungria – uma prática claramente nazista; agora, para ganhar votos, eles dizem que “o islã moderado é um parceiro na luta contra o extremismo”, conforme informa o Público. Nessas eleições, eles ficaram em segundo lugar, com 20% dos votos.

Os socialistas ficaram em terceiro, com 12% dos votos, e a presidência do partido anunciou a sua demissão. Gyula Molnár, líder dos socialistas, considera-se responsável pelos resultados e disse ter reconhecido “a decisão dos eleitores”, segundo o Público.

O fantasma que assombra a Europa

Essa foi outra eleição que confirmou novamente a presença do fantasma que vem assombrando a Europa: o retorno do populismo, da extrema-direita e do nazi-fascismo. As eleições de março desse ano na Itália evidenciaram um sucesso para os partidos populistas e de extrema direita, que obtiveram maioria. Em dezembro de 2017, o ultradireitista Partido da Liberdade da Áustria se transformou em sócio da coalizão junto com o Partido Popular. Nas eleições de setembro de 2017, o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha conquistou 12% dos votos, marcando o retorno dos fascistas e xenófobos para o parlamento alemão pela primeira vez após a queda do nazismo no país.