O polêmico primeiro ano de mandato de Lenín Moreno no Equador

Em meio a controvérsias, o presidente Lenín Moreno, do partido Aliança País (AP), completou nesta semana um ano do dia em que foi eleito como novo presidente do Equador. Apesar de ter sido o candidato apoiado por seu antecessor, Rafael Correa, ao assumir a direção do país, Lenín marcou seu distanciamento em relação a algumas políticas implementadas na gestão anterior, dividindo a militância do Aliança País, partido do qual Correa se retirou em janeiro deste ano.

Lenin Moreno e Rafael Correa - Divulgação

Uma parte dos integrantes da AP e daqueles que o elegeram como chefe de Estado acusa Moreno de trair a Revolução Cidadã, um dos maiores legados de Rafael Correa, iniciada em 2008, no início de seu primeiro mandato, quando foi aprovada a nova Constituição do país e o governo criou uma série de políticas para combater a desigualdade e garantir a justiça social.

Os opositores também afirmam que Moreno fez um pacto com os Bucaram, em referência ao presidente anterior à Correa, Abdalá Bucaram Ortiz, que foi destituído em 1996 por denúncias de corrupção e desvio de dinheiro, e seu filho, Abdalá Bucaram Pulley, líder do partido Força Equador (FE), fundado após dissolução do partido de seu pai, o Partido Roldosista Equatoriano, de caráter direitista.

As eleições presidenciais no Equador foram realizadas em 2 de abril de 2017 e finalizou com a vitória do candidato governista, Lenín Moreno, com 51,16% dos votos. A posse foi realizada no dia 24 de maio do mesmo ano.

Consulta Popular

Em setembro de 2016, Lenin Moreno anunciou que convocaria uma consulta popular para reformar a legislação nacional referente a temas de interesses comum, resumida em sete perguntas sobre áreas políticas, econômicas e ambientais. No plebiscito, a população do Equador deveria responder "sim" ou "não" às mudanças propostas pelo governo.

Analistas e dirigentes equatorianos denunciaram a inconstitucionalidade da consulta ao indicar que Moreno não estaria cumprindo o devido processo para a sua realização, que deveria acontecer somente em 4 de fevereiro. O ex-presidente Rafael Correa encabeçou a campanha pelo "Não" em todas as perguntas, pois, em sua avaliação, a consulta buscava dar maior poder ao Executivo para controlar os diferentes organismos estatais e responder aos interesses da direita.

A maior parte da população respaldou a opção "Sim" em todas as perguntas com mais de 50%; esta campanha foi promovida por várias agrupações do país. Já o "Não" contou com 36% de apoio e foi impulsionado por apenas um movimento político.

Jorge Glas

Durante o primeiro ano de mandato, Moreno enfrentou outra crise interna no governo. O ex vice-presidente do país Jorge Glas foi condenado a seis anos de prisão por supostamente ter recebido propina da construtora brasileira Odebrecht, para beneficiá-la em cinco projetos estratégicos no país, em outubro de 2016.

Glas solicitou a realização de um julgamento político para demonstrar sua inocência e denunciou o que considera ser uma a perseguição judicial contra ele, por manter-se fiel aos ideais da Revolução Cidadã. Em suas declarações sobre o caso, o ex-presidente Rafael Correa afirmou que o processo esteve marcado por irregularidades e que a Justiça do Equador condenou um inocente.

Diálogo pela paz na Colômbia

Também em outubro de 2016, a capital do Equador, Quito, passou a ser a sede das negociações sobre um Acordo de Paz entre o governo da Colômbia e o Exército de Libertação Nacional (ELN), cujo progresso se encontra no quinto ciclo de negociações para alcançar a paz no país vizinho.
Para a chanceler equatoriana María Fernanda Espinosa, esta postura do governo do Equador reafirmou o compromisso do seu país como anfitrião e garantidor do processo "até que se alcance a paz duradoura e definitiva" na Colômbia.

Política exterior

Uma delegação do Comando Sul dos Estados Unidos visitou o Equador ente os dias 26 e 27 de março, onde se reuniu com representantes das Forças Armadas para "reestabelecer as relações bilaterais" entre os dois países.

O ex-chanceler equatoriano Guillaume Long, ao comentar a visita, afirmou que, o sub-comandante civil do Comando Sul dos EUA declarou que a reunião aconteceria devido ao "interesse das autoridades equatorianas de que um de nossos oficiais retorne ao país".

Para o analista político e jornalista Orlando Pérez, a delegação do Comando Sul tem dois principais objetivos no Equador: reestabelecer as relações e aumentar a presença dos Estados Unidos na região.

Julian Assange

Ao assumir a presidência, Lenín Moreno afirmou que manteria a proteção internacional a Julian Assange na embaixada do Equador em Londres, na Inglaterra, que ali reside desde 2012.

Entretanto, no último dia 28, o governo suspendeu os sistemas que permitiam Assange se comunicar com o exterior, alegando que o jornalista australiano teria violado o compromisso de não enviar mensagens com comentários sobre outros países.