Israel seguirá com deportação de imigrantes africanos 

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, cancelou o acordo com a ONU que previa a regularização de milhares de migrantes africanos em Israel e a reinstalação de um número semelhante em países ocidentais

imigrantes africanos em israel - Reuters

"Após ouvir várias críticas, analisei as vantagens e os inconvenientes e decidi anular este acordo", disse Netanyahu num comunicado emitido na terça-feira (3). Na segunda-feira (2) a noite, horas depois do anúncio, ele já estava suspenso. 

O acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) previa a instalação em países ocidentais, nomeadamente Canadá, Alemanha e Itália, de mais de 16 mil imigrantes africanos que se encontram em Israel. Em contrapartida, Israel daria o estatuto de residente temporário a um número semelhante.

Seria assim resolvida a situação de mais de 30 mil africanos em situação ilegal em Israel – em particular eritreus e sudaneses –, que não têm em curso um processo de pedido de asilo e que deveriam ser expulsos do país de acordo com um controverso plano governamental. 

Quando anunciou que tinha decidido suspender o acordo, Netanyahu afirmou ter prestado atenção às críticas de habitantes de Tel Aviv, onde vive a maioria daqueles imigrantes.

Mas a verdade é que o pacto com o ACNUR foi desfeito depois das críticas da direita israelense que não quer que permaneçam no país os cerca de 15 mil imigrantes que não seriam enviados para países europeus. A ministra da Justiça, Miri Regev (do Likud, o partido do primeiro-ministro), e o ministro da Educação, Naftali Bennett (do Lar Judaico, partido nacionalista na coligação do Governo), pronunciaram-se contra o acolhimento do que consideram "clandestinos" em Israel. Bennett exigiu não a suspensão, mas o cancelamento do acordo.

"Não vamos premiar imigrantes que surgem com o rótulo de refugiados. São imigrantes que violaram a lei ao entrar ilegalmente em Israel", disse a vice-primeira-ministra, Tzipi Hotovely, também do Likud. "Cancelar o acordo foi a decisão certa."

"Israel precisa de um primeiro-ministro com capacidade para tomar decisões e para atuar, não de um com falta de liderança e com covardia que se esquiva às responsabilidades", disse na terça-feira (2) o líder trabalhista de Israel, Avi Gabbay, da oposição. "Netanyahu não tem política, só faz teatro e tem um extintor de incêndios que vai usando conforme os seus interesses", acrescentou Tamar Zandberg, do Meretz, também da oposição. Os dois partidos tinham saudado o acordo e passaram para a ofensiva quando Netanyahu o cancelou.

Segundo as autoridades israelenses, vivem atualmente em Israel 42 mil imigrantes africanos. Chegaram a Israel depois de 2007, entrando no país através do Sinai egípcio, e instalaram-se sobretudo nos bairros pobres de Tel Aviv. As mulheres e as crianças não estavam ameaçadas de expulsão pelo plano governamental inicial.

"Apesar das restrições jurídicas e de crescentes dificuldades, vamos continuar a trabalhar com determinação para expulsar os clandestinos do país", diz o comunicado do primeiro-ministro.

Netanyahu, que está fragilizado devido a problemas com a justiça (ele está sendo investigado por corrupção) e que luta para manter a coligação que o mantém a frente do Governo, tem agora de encontrar uma nova solução para os 30 mil africanos em situação ilegal que agrade ao seu próprio partido e aos parceiros no Governo.

O acordo com o ACNUR parecia estar condenado desde o início, uma vez que a Alemanha e a Itália disseram nada saber sobre ele.