Em meio à crise, bancos são campeões de lucro: R$ 63 bi em 2017

Enquanto, em 2017, o Brasil somava 12 milhões de desempregados, a maior parte das vagas criadas foram na informalidade, a fome voltou a assolar as famílias, a desigualdade aumentou e direitos e programas sociais foram cortados, um setor passou incólume pela crise. Os bancos – que não produzem riqueza e drenam recursos da economia real – registraram o maior lucro entre as empresas com ações negociadas na Bolsa de Valores. 

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De acordo com um levantamento produzido pela empresa de informações financeiras Economatica, juntos, os 23 bancos com capital aberto lucraram R$ 63,12 bilhões no ano passado. O resultado, que leva em conta os demonstrativos financeiros entregues pelas companhias à Comissão de Valores Mobiliários, significa uma alta de 12,27% em relação a 2016.

O setor bancário lidera com folga a lista dos mais lucrativos. Em segundo lugar, está o de mineração, com um lucro que é mais de 3,6 vezes menor: R$ 17,42 bilhões. Em seguida, aparecem os setores de energia (R$ 9,9 bilhões), alimentos e bebidas (R$ 8,49 bilhões), seguradoras e corretoras de seguros (R$ 6,94 bilhões).

Além disso, quatro bancos estão entre as cinco empresas de capital aberto com maior lucro em 2017. O Itaú Unibanco, sozinho, obteve uma rentabilidade de R$ 23,96 bilhões. Para se ter uma ideia, o orçamento destinado ao Bolsa Família, que beneficia 14 milhões de famílias, é de R$ 27,7 bilhões em 2018. No ano passado, o programa sofreu, inclusive, um corte de R$ 1 bilhão, sob o argumento da falta de recursos. 

O Bradesco, por sua vez, teve lucro de R$ 14,66 bilhões; o Banco do Brasil, de R$ 11,01 bilhões; e o Santander, de R$ 8 bilhões. Somados os rendimentos das quatro empresas, daria para custear praticamente dois Bolsa Família. O levantamento sobre o lucro das empresas não inclui a Petrobras e a Eletrobras.

Mais lucro: menos crédito, menos emprego e juros mais altos

Os bons resultados dos bancos, contudo, não têm se convertido em boas notícias para os trabalhadores dessas instituições financeiras. O setor bancário fechou 17.905 postos de trabalho em 2017, de acordo com dados do Caged. Além da piora no atendimento, as demissões têm deixado sobrecarregados os empregados que ficam na empresa.

A alta rentabilidade está associada à falta de regulação, apontam diversos analistas. Um exemplo é que, apesar de o Banco Central ter reduzido sucessivamente a Selic, que é usada como referência para empréstimos e financiamentos entre os bancos e o governo, os juros cobrados pelos bancos aos seus clientes continuam nas alturas. 

Hoje, a Selic está em 6,5%, mas os juros do cartão de crédito, por exemplo, aumentaram e, em média, chegam a 333% ao ano. Além disso, os bancos também vêm aumentando as receitas por conta das caras tarifas cobradas de clientes pela prestação de serviços, como a manutenção de contas.

Estudiosos apontam que o setor que mais contabiliza lucros no país não cumpre o papel que deveria para ajudar o país a retomar o crescimento. Ao contrário do que faz hoje, deveria praticar juros civilizados, elevar a oferta de crédito, preservar empregos e melhorar o atendimento à população.