"Não permitiremos que o país avance para um fascismo ainda maior”

Para socióloga e ex-ministra, o atentado contra Lula é prova irrefutável de que um golpe fascista assola o país.

Eleonora Menicucci - TVT

 "Tem que meter bala, aproveita que tá de noite, mirar nos pneus, motor", escreveu um dos suspeitos de organizar o atentado à Caravana de Luiz Inácio Lula da Silva pelo sul do país nesta terça-feira (27) em um grupo de whatsapp. Dois ônibus que acompanhavam o ex-presidente foram alvejados com 3 tiros no Paraná e, até o momento, dez suspeitos estão sendo investigados pelo Ministério Público do estado após representação do Coletivo de Advogados e Advogadas pela Democracia (CAAD).

Prints de conversas dos grupos de Whatsapp "Caravana Contra Lula 26/03" e "Foz contra Lula 26/03" apresentadas pelos advogados, circulam na internet e expõem a intensa incitação à violência contra a Caravana. "Gente, vamos trocar os ovos por bala de borracha e munição letal, que vai ser bem mais eficaz", dizia outra mensagem.

Para Eleonora Menicucci, socióloga e ex-ministra de Políticas para Mulheres do governo Dilma, o atentado é fruto do golpe de 2016 e evidencia uma perigosa escalada extremista da direita no país. “Foi de uma covardia inominável. O atentado contra a caravana é um atentado contra o Lula, mas, sobretudo, contra a democracia. O golpe tem representações muito violentas e, até então, se manifestava principalmente em perda de direitos. Mas depois da execução da Marielle Franco e esse atentado contra a pessoa do presidente Lula, se consolidou como golpe fascista em todos os sentidos”, lamenta.

A ex-ministra reforça que o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro no dia 14 de março, data em que Marielle foi executada com três tiros na cabeça e um no pescoço, assim como a chacina de cinco jovens na cidade de Maricá (RJ) no último domingo (25), são exemplos de que vivemos tempos sombrios. “Esses fatos são precedentes para um futuro ainda pior. Se não houver um estancamento, o cenário se agravará a passos largos no Brasil. É muito preocupante e lamentável estarmos em um quadro de barbárie tão grande. A direita fascista saiu do armário e ela tem agido perigosamente”.

Contraponto

Após repercussão internacional do episódio, na noite de ontem (28), a caravana teve um ato de encerramento que contou com a presença de militantes, partidos de esquerda e dos pré-candidatos à Presidência da República Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D'Ávila (PCdoB).

Na avaliação de Menicucci, o evento é muito significativo por mostrar a união da esquerda contra o fascismo. “É a esquerda se unindo pra dizer: ‘Nossa luta é maior do que as eleições. Nossa luta é pela democracia.’ Nós não permitiremos que o Brasil avance para um fascismo ainda maior. Chega de execução, chega de perdas de direito. Nós não podemos titubear um minuto a mais, temos que continuar a lutar e mostrar nossa indignação”, enfatiza.