Guadalupe Carniel: Quanto vale a angústia?

A palavra angústia se refere a uma situação limite vivida por um personagem no teatro grego. Também serve pra se referir às dores da alma, sendo a maior delas, a morte.

Por Guadalupe Carniel*

Juventus futebol

O Juventus estava assim até ontem. Sobrevivendo aos trancos e barrancos e contando com W.O. e o péssimo desempenho de outros times, estava próximo da zona de rebaixamento, podendo estar no ano que vem na série A3 do Campeonato Paulista. Mas a situação mudou após o jogo contra o Penapolense fora de casa em que o time grená se safou com um gol aos 44 do segundo tempo, do Dener.

Após o jogo, redenção. Torcedores comemoravam, pessoas que “simpatizam” parabenizavam. Mas o que nada se comentou foi que, o time não fez mais do que sua obrigação em UMA partida, já que durante o torneio todo teve um desempenho pífio.

Falam que o Juventus se manter na série A2 significa que a resistência está presente. O time tá bem aquém disso. O futebol apresentado é sofrível e a diretoria não pode ser levada a sério, já que claramente quer que o time não saia do lugar que está, ou que pior, chegue realmente ao fundo do poço, podendo, dessa forma, vender aquela ideia do “futebol romântico que não vive de copas” (ah, isso sem esquecer do escândalo do impeachment que foi “votado” para a manutenção do presidente). O clube, assim como tantos outros, se tornou apenas o reflexo de um futebol que cada vez mais afunila e facilita para os times de grande expressão midiática, enquanto os outros ficam embaixo, num abismo.

Camisa, história, glórias? Isso tudo é varrido para debaixo do tapete e novas são construídas e mesmo compradas pra criarem novos consumidores. O que importa é manter a roda em movimento, não importa a que preço.

Portanto, a angústia passou momentaneamente. Mas ela segue perseguindo e rondando os times considerados de menor expressão que contam com calendários pífios, jogando uma média de 19 partidas por ano, segundo pesquisa da FGV, pouco ou nenhum investimento e quase nenhuma divulgação.

Ah, só para situar: o Juventus, que todos tanto enaltecem nas mesas de bar e nas redes sociais é um clube onde a meia-entrada é 10 reais nos jogos. O mesmo valor segundo o maior jornal de esportes do país (o Lance) dá pra comprar 5 panos de chão e que foi classificado como sendo o fundo do poço para um Fla-Flu. Segundo o mesmo jornal esse valor seria desmoralizante. Por quê? Já vi criticarem times que fazem promoções de trocas de garrafas por ingressos e iniciativas assim. Infelizmente, tentar atrair torcedor pobre não é interessante para a grande mídia. O mesmo jornalista falou sobre respeito ao torcedor. Se isso não é o início do respeito ao torcedor eu não sei então o que é.

Mas esses mesmos jornalistas são os que escrevem sobre o Juventus como sendo um time nostálgico e fetichizam a equipe da Mooca. Coisas de uma imprensa esportiva que modernizou o futebol e que o quer como nos videogames. Mas a vida vai além de uma tela, mesmo sendo dura e cheia de angústias e dilemas. Ainda bem, porque é isso que nos move.