G-20 na Argentina: limites do livre comércio e da subserviência latina

Aconteceu nesta semana a reunião de ministro e presidentes de bancos centrais dos países membros do G-20 na Argentina. O país será a sede da Cúpula do grupo das 20 maiores economias do mundo em novembro deste ano. Pela primeira vez o encontro será feito na América Latina e o anfitrião será o neoliberal Maurício Macri, disposto a mudar a correlação de forças no continente.

Mauricio Macri no G 20 - Reuters

Nesta reunião preparatória os ministros e presidentes de bancos centrais debateram temas como “o futuro do trabalho”, “o desafio que representam as criptomoedas e as possíveis vias de regulação”, “a tributação de grandes multinacionais digitais”, “projetos de um modelo global de financiamento de infraestrutura que melhore a participação do capital privado”.

Porém, o encontro foi marcado pelas tensões entre os membros do grupo, devido à recente aprovação do governo dos Estados unidos de aumentar em 25% a tributação sobre a importação de aço e 10% no que diz respeito à compra de alumínio no exterior. A medida entre em vigor nesta sexta-feira (23) e afetará todos os países membros, exceto Canadá e México.

Este clima tenso colocou Maurício Macri em maus lençóis, bem como outros líderes latino-americanos que nos últimos anos têm promovido a politica de subordinação às vontades de Washington.

A presidência argentina fez o possível para que as discussões sobre o aparente giro protecionista dos Estados Unidos não marcassem o encontro, mas não conseguiu. A Argentina pretende negociar com os EUA de forma bilateral para se isentar da aplicação das novas taxas, assim como fizeram o Canadá e o México. Só no ano passado, o país exportou mais de 550 milhões de dólares em alumínio e 220 milhões de dólares em aço. As duas principais empresas exportadoras são a Aluar e a Tenaris, esta última é membro do grupo Techint.

Apesar da retórica do governo argentino sobre a multilateralidade, a defesa dos interesses destas empresas tem levado o executivo a preferir uma saída de negociação bilateral com os EUA frente à multilateral. É preciso saber, no entanto, se estão dispostos a sacrificar Macri para conseguir tirar a Argentina do pagamento das novas taxas porque parece claro que o governo de Donald Trump não mudará as regras sem tirar proveito da mudança.

Macri está entre a cruz e a espada com os limites do livre comércio por todos os lados. Se agora enroscou nesta medida impulsionada pelso EUA, já há meses que vem enfrentando uma situação parecida no processo de negociação do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, onde este último querem aumentar consideravelmente as taxas de importação da pecuária do dos países do bloco sul-americano.

Não se trata de Trump, nem de uma nova onda de protecionismo. Este protecionismo da União Europeia está longe de ser novo, tampouco o dos EUA é novidade. A abertura que pregam as principais economias mundiais é sempre parcial e controlada e direcionada aos setores onde obtêm um maior benefício devido à alta competitividade de seus bens e serviços. Antes de Trump, os EUA também intervinham ativamente na economia. Com Obama se aprovou a cláusula Buy American, que exigira o uso de ferro e aço e de produtos de manufaturados estadunidenses nos projetos de infraestrutura financiados com recursos de planos de estímulo do governo; se resgatou o sistema bancário e continuaram protegendo os setores agrícolas.

A União Europeia atua do mesmo modo, protege os setores agrícolas e pecuários porque sabe que a abertura e a eliminação dos subsídios seria a ruína para centenas de milhares de famílias em toda a Europa; assim, resgataram os bancos privados e seguem resgatando grandes empresas privadas dedicadas à exploração de infraestruturas – como aconteceu nesta semana com as concessionárias privadas de autopistas na Espanha.

Ou seja, os benefícios da abertura total das economias são uma quimera. A reação de Trump é uma ação de defesa. Uma ação de defesa diante da hegemonia comercial perdida em favor da primeira potência comercial do mundo, a China. Não é que Trump seja protecionista. O presidente norte-americano reage às novas demandas da correlação de forças na economia mundial como teria feito qualquer norte-americano. Estes movimentos respondem à crise do regime de acumulação norte-americano que resiste, como é normal, mesmo seguindo cotas de poder. O problema é que alguns governos latino-americanos parecem não entender que o uso de algumas medidas de proteção favorecem a economia, o desenvolvimento e, portanto, o bem-estar da população. Macri, assim como outros líderes neoliberais latino-americanos, segue jogando as cartas mais baixas e isso significa seguir perdendo cada partida do jogo com o comércio internacional.