Há mais brasileiros na Venezuela que venezuelanos no Brasil, diz ONU

O Relatório Internacional de Migração de 2017, divulgado pelo Departamento das Nações Unidas para Assuntos Econômicos e Sociais (DECA, na sigla em inglês), apontou que o número de brasileiros vivendo na Venezuela é maior do que venezuelanos vivendo no Brasil. A conta é feita em cima dos dados absolutos.

Por Lucas Estanislau

Aeroporto Internacional Simón Bolívar - Divulgação

Segundo o documento, 0,02% da população total da Venezuela é formada por brasileiros, totalizando 6.119 imigrantes do Brasil vivendo no país. Já o número de venezuelanos vivendo no Brasil é de 3.515 pessoas, aproximadamente 0,001% da população brasileira. Além de brasileiros, o número de cidadãos de outras nacionalidades que estão vivendo na Venezuela também supera o número de venezuelanos que habitam seus países.

De acordo com o relatório, a Argentina abriga 1.286 venezuelanos, cerca de 0,003% da população argentina, enquanto que 10.098 argentinos vivem na Venezuela, somando 0,03% da população venezuelana.

Em relação ao total de venezuelanos – que vivem no seu país de origem ou não – aproximadamente 0,01% moram no Brasil. Para esse cálculo é levado em conta a população total que vive na Venezuela, menos o número de imigrantes morando no país, mais os venezuelanos que vivem fora de seu país de origem. Em relação ao total de brasileiros, o mesmo cálculo (população no Brasil – imigrantes de outros países + brasileiros no mundo) dá 0,002%.

No caso da Argentina, cerca de 0,004% do total de venezuelanos pelo mundo vivem no vizinho latino-americano. Comparando o número de argentinos pelo mundo, cerca de 0,02% vivem na Venezuela.

Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Gilberto Rodrigues, esse processo pode ser explicado pela política de “acolhimento” do país. “A Venezuela tem sido um país de acolhimento de migrantes, tanto migrantes econômicos, quanto forçados, ou seja, pessoas refugiadas”, afirma.

Segundo o professor, “os governos social-democratas da Venezuela sempre concederam asilo para muitos imigrantes latino-americanos, inclusive acolhendo pessoas perseguidas pelas ditaduras militares da América do Sul e Central”.

Colômbia

Outro país da América Latina que possui mais cidadãos vivendo na Venezuela do que abrigando cidadãos venezuelanos é a Colômbia. Aproximadamente 0,1% da população colombiana é constituída por imigrantes venezuelanos, totalizando 49.829 pessoas. Já na Venezuela, vivem 988.483 colombianos, cerca de 3,1% da população.

“No caso da Colômbia, milhares de colombianos se refugiaram na Venezuela devido à guerra civil de mais de cinco décadas naquele país”, afirmou Rodrigues.

Estes números não representam a movimentação de imigrantes: mostram sim o número de imigrantes que vivem em determinado local, não sendo possível falar em fluxo migratório. Segundo o DECA, para fazer o cálculo apresentado no relatório, é levado em conta o número de imigrantes que morreram, quantos imigrantes entraram e quantos saíram de determinado país, dentre outros fatores.

Norte e Sul

O relatório ainda apontou que a quantidade de imigrantes vivendo em países em desenvolvimento – considerados pelo critério da ONU como países do Sul – aumentou 3,2% entre 2000 e 2017, superando os índices de países desenvolvidos – considerados pelo critério da ONU como países do Norte.

Em 17 anos, países considerados desenvolvidos registraram 1,6% de aumento em seu estoque de imigrantes, exatamente a metade dos índices alcançados pelos países do Sul.

As regiões em desenvolvimento registraram um crescimento exponencial ao longo da pesquisa. Entre 1990 e 2000, a taxa do estoque de imigrantes vivendo em países do Sul era de -0,1%, crescendo para 2,6% entre 2000 e 2010.

Dez países com mais imigrantes

Segundo o relatório das Nações Unidas, o mundo possui um total de 258 milhões de imigrantes (dados de 2017), porém mais da metade do total de imigrantes está em apenas dez países. De acordo com o levantamento, 51% do estoque de imigrantes no mundo vivem nesses dez países, todos considerados desenvolvidos.

Os Estados Unidos lideram o ranking com 49,8 milhões de imigrantes, ou 19% do número total, seguidos por Arábia Saudita e Alemanha, ambos com 12,2 milhões de imigrantes, Rússia, que abriga 11,7 milhões, e Reino Unido, com 8,8 milhões.

Para o professor, estes números se explicam peo fato de esses países possuem grande capacidade de absorção dos imigrantes no mercado de trabalho. Alguns deles, no entanto, não oferecem boas condições trabalhistas. “A Arábia Saudita é um país riquíssimo que atrai mão de obra da Ásia para atuar em projetos de infraestrutura, embora não ofereça condições de trabalho e de vida dignas para esses imigrantes”, diz Rodrigues.