Taís Matos: Somos humanos, mas estamos carentes de humanidade

“Eu, apesar de não ter conhecido pessoalmente Marielle Franco, sei quem era ela. Sei porque somos iguais nos pensamentos, na vida que escolhemos de travar o debate para a construção de um país melhor. Não somos a favor do genocídio da juventude negra; não apoiamos a violência contra quem quer que seja”.

Por Taís Matos*

Taís Matos

Eu, mulher negra, nascida na periferia, não consigo entender a tamanha crueldade de algumas pessoas em relação ao assassino de Marielle Franco. O que mais me surpreende é saber que pessoas que supostamente defendem a vida, como alguns colegas em um grupo de trabalhadores da saúde tratem de forma banal um ato tão violento. Nem sequer empatia pelo sofrimento dos familiares.

Alguns saíram do grupo porque quando as pessoas começaram a questionar as mentiras, houve alegações de que o grupo desviou o foco. Não é a violência um problema de saúde? Quantas e quantas mães, mulheres negras como Marielle e eu sofrem mentalmente com a violência a que seus filhos são submetidos? A saúde mental dessas pessoas não importa? Discutir todos os problemas que acometem as comunidades é uma ação de saúde sim.

Às vezes eu penso: Será que eu penso assim porque sou como Marielle? Como relatei no começo do texto, sou mulher, negra, da periferia, que teve que conviver com uma realidade muito parecida com a de Marielle. Hoje sou médica especializada em Saúde da Família, e aí tenho que dizer que vivencio todos os dias realidades de meninos e meninas como eu fui, em uma comunidade com diversos problemas sociais.

Eu agora posso dizer que não é só por ela ter sido igual a mim, também sofro com o sofrimento dos meus diferentes… Sim somos diferentes mas, apesar de sermos diferentes, temos algo em comum que é a humanidade. Por incrível que pareça, nós somos todos humanos, mas estamos carentes de humanidade.

As pessoas que riem, fazem chacotas ou divulgam e compartilham mentiras sobre essa mulher guerreira que lutava por um mundo melhor, merecem a punição da justiça. E não adianta seguirem com mentiras. Eu, apesar de não ter conhecido pessoalmente Marielle Franco, sei quem era ela. Sei porque somos iguais nos pensamentos, na vida que escolhemos de travar o debate para a construção de um país melhor. Não somos a favor do genocídio da juventude negra; não apoiamos a violência contra quem quer que seja.
#SomostodasMarielle.
#Mariellepresente

*Taís Matos é médica e membro da direção estadual da UBM-CE.

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