"Hoje é clichê dizer que a política é algo do mal", diz Marcia Tiburi

A filósofa e escritora Marcia Tiburi, em entrevista publicada pelo site Poder360, faz uma análise da conjuntura política brasileira e fala das perspectivas do processo eleitoral de outubro.

Marcia Tiburi

Marcia afirmou que o desinteresse pelos partidos e pelas eleições por parte dos brasileiros apontado em pesquisas está relacionado com a construção de “um imaginário político” diferente do que ele realmente é.

“Hoje é um clichê dizer que a política é algo do mal, que o poder corrompe, que políticos são todos corruptos e que o campo político é o campo da corrupção, desvinculando também aquilo que é político do que é ético, daquilo que deve ser feito“, salientou.

Marcia comentou também as ameças de censura por parte do governo contra a criação de disciplinas de universidades sobre o golpe de 2016, que tinham o objetivo de discutir as “chances” de “restabelecimento do Estado de direito” depois do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff.

Para ela, a atitude do governo de tentar analisar a legalidade do curso foi uma “forçação de barra autoritária” e diz que ele não teria legitimidade para isso.

“Foi maravilhoso isso que ocorreu na UNB, com o professor Luis Felipe Miguel. Ele vem sendo apoiado por várias universidades, que também estão instaurando esse curso. Eu mesma vou participar de um”, declarou.

“Precisamos também deixar claro que somos autônomos, intelectuais, pesquisadores e termos liberdade de cátedra. Isso tem que permanecer sendo sagrado no Brasil”, completou.

Intervenção

Ao falar sobre a intervenção militar na segurança pública do Rio de Janeiro, imposta pelo governo Michel Temer, Marcia afirma que a medida é “uma estratégia eleitoreira para causar espetacularmente um clima favorável ao governo”.

“A população mesmo sempre prefere soluções imediatistas, até porque a grande parte da nossa população no Brasil sofre com a ausência de direitos. Então, as pessoas preferem a solução com força, por exemplo, vendo que não há tempo hábil para solucionar os problemas da sua própria vida”, explica.

Discurso de ódio

Em janeiro, Marcia deixou um programa de rádio ao descobrir que o outro convidado era Kim Kataguiri, coordenador do MBL. Questionada porque deixou o programa se um dos livros que escreveu tem como título “Como eu estava explicando aqui [na UNB], diálogo, conversação e bate papo são 3 instâncias completamente diferentes. Não é possível praticar um bate papo, uma conversação e nem um diálogo com alguém que tenha um discurso pronto, de ódio, de cancelamento de direitos, que faz todo uma propaganda fascista no Brasil. Eu me senti livre, autônoma e soberana para sair daquele evento que era uma armadilha. Até porque existe toda uma mistificação e produção de fake news, como de fato aconteceu”.